Segundo delegado, o crime pode ter sido motivado por vingança
Dezenas de pessoas protestaram em Imbituba, na região Sul de Santa Catarina, no local da morte do menino indígena Vítor Pinto, de 2 anos, por volta das 12h desta quarta-feira (6), uma semana após o crime.
Com uma fita vermelha amarrada ao pescoço, local do ferimento que causou a morte do garoto, os manifestantes pediram justiça, embaixo da árvore, em frente à rodoviária da cidade onde Vitor estava com a mãe quando o assassino o matou. O delegado regional de Laguna José David Machado afirmou no Jornal do Almoço desta quarta que o suspeito de 23 anos pode ter cometido o crime por vingança (veja o vídeo acima).
“Extraoficialmente, ele informou para uma policial que, algum tempo atrás, foi vítima de dois indivíduos que quebraram o braço dele e eles seriam indígenas. Talvez aí, tenha assimilado aquele golpe e viu ali uma maneira de extravasar aquela raiva", disse o delegado. Questionou-se se foi uma forma de vingança. "Exatamente, apesar de que nada justifica o crime cometido contra a criança totalmente indefesa”, respondeu ele.
De mãos dadas, os manifestantes fizeram uma oração e cantaram músicas de protesto. Depois, caminharam até a frente da delegacia. Moradores da cidade, indígenas da tribo Guarani de Imbituba, representantes da Funai e um padre, representando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pediram mais respostas dos policiais.
A mãe de Vitor, que saiu de Chapecó, com representantes do povo Kaingang, passou mal a 10 quilômetros de Imbituba. Eles não conseguiram chegar a tempo para o evento, pois foi necessário dar assistência.
Suspeito preso
De acordo com o delegado Rogério Taques, o rapaz desempregado, detido na última quinta (31), pode ficar preso até 31 de janeiro. A prisão pode ser prorrogada por mais 30 dias. Ele teria as mesmas características físicas e objetos pessoais do autor do crime, que aparece correndo em imagens de uma câmera de segurança. Ele não confessou o crime.
Ainda no dia do assassinato, um outro suspeito havia sido detido, mas foi liberado na mesma noite por não ter relação com o crime, segundo a Polícia Civil.
Crime
"O rapaz se abaixou e fez um carinho no rosto do menino. Disse que era um menino lindo. Logo a mãe pensou que iam ganhar alguma coisa, um presente. Segundos depois ele enfiou a navalha e saiu correndo".
O relato do coordenador substituto da Funai descreve o que ele ouviu na manhã de segunda-feira (4) da mãe de Vitor, assassinado no último dia 30 em frente à rodoviária de Imbituba. "Ela não entendeu o que aconteceu", disse Clóvis Silva.
No momento do crime, o menino se alimentava sob uma árvore ao lado da mãe. Além dela, um taxista presenciou o assassinato. O pai estava em outra parte da cidade, vendendo artesanato.
Família kaingang
Vitor Pinto era de uma família de índios kaingangues e vivia com na aldeia Condá de Chapecó. Ele acompanhava o pai e a mãe, que durante o verão, assim como muitos indígenas, vão para o litoral para vender o artesanato que garante o sustento da tribo.
A mãe já foi ouvida pela Polícia Civil, mas deve prestar novos esclarecimentos. "Logo que falou com a polícia, ela ainda estava em choque". Na época, ela chegou a reconhecer o primeiro suspeito como autor do crime.
Segundo relato dela à Funai, o rapaz que está atualmente preso pode ser o autor do crime. "Ela não tem certeza. Ela só disse que, pelas fotos, o segundo homem preso está diferente do que era no dia. Na data, o suspeito estava mais &39;cabeludo&39;. Agora ele está com cabelo raspado, mas ela não sabe dizer das feições.
Comoção no enterro
O menino indígena foi enterrado na tarde de sexta-feira (1°), em Chapecó. O corpo chegou por volta das 9h da manhã à comunidade, na companhia do pai. O velório ocorreu na igreja da aldeia Condá, e o enterro foi no cemitério da comunidade, após um cortejo. Dezenas de familiares e amigos da aldeia se reuniram desde cedo para se despedir do menino e pediam justiça.
"Foi uma tragédia que aconteceu, pra nós da aldeia", disse a tia do menino, Marcia Rodrigues, que é vice-cacique da tribo. "A gente não esperava por isso. Nós estávamos querendo comemorar o 1° dia do ano todos juntos, na aldeia, fazer nossa festinha. E aconteceu essa tragédia."
Os pais, que têm outros dois filhos mais velhos, estavam muito abalados. O casal estava em Imbituba com o caçula para vender artesanato e só pretendia voltar a Chapecó no fim do verão. "Respeita nós, pra acabar com a violência", pediu a tia. "Nós estamos com receio de sair para o litoral, principalmente com crianças."
› FONTE: G1