Será que as pessoas tornam-se diabéticas inexoravelmente quando têm uma tendência para tal? Será possível evitar "essa tragédia"?
Atualmente, as estatísticas revelam que já contamos com 300 milhões de diabéticos em todo o mundo e podemos chegar a 380 milhões nos próximos 15 anos, se nenhuma atitude eficiente for tomada.
No dia 14 de novembro, o mundo inteiro é chamado a participar de uma campanha de educação em prol da prevenção da doença. Todos os anos, desde 1991, celebramos, nesta data, o Dia Mundial do Diabetes, criado com o desafio de conscientizar pacientes e familiares, médicos e profissionais de saúde, governos e sociedade civil sobre a doença e a melhor forma de enfrentá-la.
“Enfrentar o diabetes não é fácil. Quando estamos diante de um paciente adulto com o diagnóstico de uma doença crônica como o diabetes, tudo o que enxergamos é medo. Medo de não saber o que fazer e de não saber lidar com esta doença tão debilitante. Imagine então quando o diagnóstico de diabetes é dado a uma criança. Pais, irmãos, avós, professores, profissionais de saúde e todos os que cercam este paciente também são desafiados a enfrentar a doença. A batalha contra o diabetes infantil não é fácil”, afirma o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
E além de não ser fácil, a batalha contra “o diabetes de adulto” ou diabetes tipo 2 em crianças parece estar sendo perdida. Nos últimos anos, como nunca antes registrado na história da humanidade, houve um aumento de mais de 1000% em pacientes com diabetes tipo 2 em crianças durante as últimas duas décadas:
Um estudo publicado no New England Journal of Medicine descobriu que os medicamentos utilizados para manter a glicemia sob controle em crianças e adolescentes (10 a 17 anos) não funcionam e nem mesmo as recomendações gerais de mudanças no estilo de vida são de muita ajuda para tratar o diabetes tipo 2 em crianças. Além disso, a doença é mais rapidamente progressiva e agressiva em crianças. Crianças que ainda nem aprenderam a importância de tomar um medicamento agora estão enfrentando injeções diárias de insulina. Crianças pobres e as minorias são mais fortemente atingidas pelo mal.
“Será que realmente podemos pensar que medicar pode ser mais eficaz do que livrarmos crianças e adolescentes de uma dieta ruim? Será que podemos considerar apropriado que 26% dos brasileiros afirmem consumir refrigerante por pelo menos 05 vezes por semana e que apenas 22,7% da população ingere a porção diária recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de cinco ou mais porções de frutas, legumes e verduras ao dia, conforme aponta a pesquisa Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico)?”, questiona o pediatra.
Se medicar for o caminho, é preciso lembrar que uma das drogas utilizadas no estudo publicado no New England Journal of Medicine tem sido responsável por mais de 200.000 mortes por ataques cardíacos desde que foi introduzida no mercado em 1999. O FDA (Food and Drug Administration) restringiu o seu uso nos Estados Unidos. Deveríamos estar usando isso nas crianças?
“Começar a fazer uso da insulina mais cedo não traz qualquer benefício ou qualquer sentido também. Introduzir a insulina no tratamento dos diabéticos é um campo minado, que leva a uma cascata de aumento de ganho de peso, de pressão alta e de colesterol alto. O açúcar no sangue é reduzido, mas tudo que pode agravar o estado de saúde de um diabético fica pior”, explica Moises Chencinski.
Doenças do adulto são agora comuns em crianças. Mas não devemos aceitar isso. São gastroenterologistas tratando de pacientes com pouquíssima idade com doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) causada por anos de ingestão de refrigerantes. São aumentos de mais de 50% nos acidentes vasculares cerebrais em crianças com idades entre 5 e 14 anos (American Stroke Association). Agora, estamos vendo ataques cardíacos em adolescentes e pacientes com 20 anos de idade que necessitam de cirurgia cardíaca por causa da obesidade e do diabetes que entopem suas artérias.
Para enfrentar o diabetes tipo 2
O diabetes tipo 2 é uma doença que é quase 100% evitável e reversível. Mas isso não vai ser resolvido no consultório médico, na clínica ou no hospital. A doença tem que ser tratada onde ela começa: em casa, na comunidade, na sociedade, em nossas políticas públicas e em nossas práticas da indústria.
“Esta é uma doença social, por isso precisamos de uma cura social. O estudo deveria servir como um alerta social. Uma sirene estridente à insanidade da nossa abordagem médica atual sobre a obesidade e o diabetes tipo 2, tanto para crianças, quanto para adultos”, observa o médico.
Quando uma criança com 5 anos de idade tem doença hepática gordurosa não alcoólica e uma de 8 anos tem um acidente vascular cerebral, isto não é uma questão de escolha pessoal, ou melhor, de medicação. Agora, que os cientistas provaram que o fast food e o açúcar são biologicamente viciantes, não podemos culpar o indivíduo ou a família. Um viciado em heroína pode simplesmente cortar o seu vício, sem auxílio?
“Precisamos de uma chamada enorme para a ação, uma campanha multifacetada coordenada nacionalmente. Precisamos que a presidenta Dilma e todas as demais autoridades públicas realmente preocupadas com a saúde infantil se comprometam diante do povo que irão acabar com o diabetes tipo 2 até o final desta década, como fizeram com a desnutrição infantil, anteriormente”, diz o pediatra.
Além disso, a indústria de alimentos deve ser responsabilizada. Mudanças políticas simples poderiam ter um impacto enorme. A indústria alimentícia tenta nos convencer de que todas as calorias são as mesmas: que um lanche de cenouras ou de flocos de milho industrializados é o mesmo, desde que eles tenham 100 calorias cada. A ciência prova o contrário. As calorias provindas do açúcar agem de maneira diferente no corpo para a condução da biologia do diabetes. E as cenouras não são viciantes, mas o açúcar é. Não podemos ignorar ou aceitar isso por mais tempo...
“A indústria de alimentos culpa a vítima e nos diz que estamos apenas preguiçosos e que tudo é culpa do nosso estilo de vida sedentário. Coma o que quiser, somos informados, mas exercite-se mais! Você teria que praticar muito mais exercícios físicos para queimar todas as calorias vazias de uma refeição inapropriada. Essa estratégia não vai funcionar. Mover-se é importante, mas mudar o ambiente alimentar é mais importante ainda”, alerta Moises Chencinski.
A longo prazo, o Brasil, que está despontando como uma liderança mundial, precisa ter consciência social que a obesidade infantil e o diabetes tipo 2 também afetarão a sua competitividade econômica global, porque as disparidades de saúde levam a uma diferença de desempenho. “Conforme o tamanho da cintura das nossas crianças e adolescentes cresce, encolhe o poder de seus cérebros”, observa o médico.
Precisamos de ação e políticas de apoio às comunidades saudáveis, uma vez que o governo, empresas e instituições de saúde não nos apresentam soluções. Há coisas que podem ser feitas. Precisamos de um movimento popular e de políticas e programas de governo que possam mudar o ambiente em que vivemos hoje para que nossos filhos tenham a oportunidade de ter uma vida feliz, bem sucedida e saudável. “Crianças com obesidade e diabetes vivem vidas ‘mais pobres’, com menos qualidade, muitas vezes, não terminam a escola e ganham muito menos do que suas contrapartes saudáveis”, destaca o pediatra.
Para isso, é preciso uma única abordagem que funcione com todas as suas forças, visando eliminar a obesidade e o diabetes em crianças simultaneamente, em casa, na escola, nos bairros e em comunidades locais, nos meios de comunicação, na regulação corporativa e nas políticas governamentais que promovam a saúde, em vez da doença.
“Neste Dia Mundial do Diabetes, o mais importante é que cada um reflita: o que você está fazendo em sua casa, na sua família, em sua escola e na sua comunidade para acabar com o ataque à saúde de nossas crianças e ao futuro da nossa nação? Nós temos o poder de tomar de volta a nossa saúde. Ele começa com pequenas escolhas, ação local e política. E devemos fazê-lo por nossa causa, por causa dos nossos filhos e dos nossos pacientes”, defende Moises Chencinski.
› FONTE: Consultoria de Comunicação & Marketing em Saúde