Adolescentes são mais propensos a fumar quando pais e irmãos mais velhos fumam
Exemplo vem de casa, a máxima é antiga, mas muito atual. Segundo um estudo recente, publicado no Pediatrics, mesmo em uma época de declínio das taxas de uso do cigarro pelos adolescentes, nos Estados Unidos, os filhos de fumantes atuais (e mesmo de ex-fumantes) são mais propensos a fumar. A influência do irmão mais velho neste processo também é relevante.
Segundo os pesquisadores, os hábitos tabagísticos dos pais de longo prazo afetam a probabilidade de fumar de seus filhos. Dados de 214 pais e 314 crianças de 11 anos ou mais foram analisados pelos estudiosos. Os resultados revelaram que 8% dos filhos de pais não-fumantes fumaram no ano passado. Já entre os filhos de fumantes, cerca de 23-29% tinham fumado no ano passado. Essas taxas variaram de acordo com a consistência do ato de fumar dos pais, mas mesmo filhos de fumantes "leves", “ocasionais” ou que pararam de fumar apresentaram um risco maior de fumar.
“De acordo com o estudo, o tabagismo dos pais em qualquer idade, mesmo antes de a criança nascer, contribui diretamente para uma maior chance de que seus filhos fumem. Os pesquisadores também descobriram que as crianças que tinham um irmão mais velho fumante apresentavam seis vezes mais probabilidade de fumar do que as crianças que não tinham um irmão que fuma. Um irmão mais velho que fuma tem 15 vezes mais chances de estar presente numa família com pais que são fumantes inveterados em comparação às famílias onde os pais não são fumantes”, afirma o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
A recomendação dos autores do estudo é clara: os esforços de prevenção para enfraquecer associações intergeracionais devem considerar o uso do cigarro a longo prazo dos pais, bem como o comportamento de fumar de irmãos mais velhos na casa.
Saúde infantil x tabaco
No Brasil, estima-se que cerca de 200.000 mortes/ano são decorrentes do tabagismo (OPAS, 2002). De acordo com o Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos Não Transmissíveis , realizado em 2002 e 2003, entre pessoas de 15 anos ou mais, residentes em 15 capitais brasileiras e no Distrito Federal, a prevalência de tabagismo variou de 12,9 a 25,2% nas cidades estudadas.
Os homens apresentaram prevalências mais elevadas do que as mulheres em todas as capitais. Em Porto Alegre, encontram-se as maiores proporções de fumantes, tanto no sexo masculino quanto no feminino, e em Aracaju, as menores. Essa pesquisa também mostrou que a concentração de fumantes é maior entre as pessoas com menos de oito anos de estudo do que entre pessoas com oito ou mais anos de estudo.
Em relação à prevalência de experimentação e uso de cigarro entre jovens, de acordo com estudo realizado entre escolares de 12 capitais brasileiras, nos anos de 2002-2003 (Vigescola ) a prevalência da experimentação nessas cidades variou de 36-58% no sexo masculino e de 31-55% no sexo feminino, enquanto a prevalência de escolares fumantes atuais variou de 11-27% no sexo masculino e 9-24% no feminino.
Efeitos da fumaça sobre a saúde da criança
O tabagismo feminino reduz globalmente a fertilidade, causando um atraso da primeira gestação. O atraso na concepção reflete-se numa gama de possíveis efeitos adversos na reprodução, como interferência na fertilização, dificuldade de implantação do óvulo concebido ou perda após a implantação.
A mulher fumante tem um risco maior de infertilidade, câncer de colo de útero, menopausa precoce (em média dois anos antes) e dismenorreia (sangramento irregular). Outras graves complicações na saúde feminina também podem resultar do ato de fumar durante a gravidez. Abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e episódios de hemorragia ocorrem mais frequentemente quando a mulher grávida fuma.
O tabagismo masculino está associado à redução na qualidade do sêmen, incluindo concentração de espermatozoides, motilidade, morfologia e efeito potencial na função espermática, além das alterações nos níveis hormonais. O tabagismo também pode causar uma diminuição da fertilidade por alterar os níveis hormonais séricos de testosterona e de estradiol, e por provocar a fragmentação do DNA dos espermatozoides.
“De acordo com dados do INCA, Instituto Nacional de Câncer, se a mãe fuma depois que o bebê nasce, este sofre imediatamente os efeitos do cigarro. Durante o aleitamento, a criança recebe nicotina através do leite materno, podendo ocorrer intoxicação em função da nicotina (agitação, vômitos, diarreia e taquicardia), principalmente em mães fumantes de 20 ou mais cigarros por dia. Em recém-nascidos, filhos de mães fumantes de 40 a 60 cigarros por dia, observou-se acidentes mais graves como palidez, cianose, taquicardia e crises de parada respiratória, logo após a mamada”, alerta o pediatra.
Estudos mostram que crianças com sete anos de idade nascidas de mães que fumaram 10 ou mais cigarros por dia durante a gestação, apresentam atraso no aprendizado quando comparadas a outras crianças: observou-se atraso de três meses para a habilidade geral, de quatro meses para a leitura e cinco meses para a matemática.
“Em crianças de zero a um ano de idade que vivem com fumantes, há uma maior prevalência de problemas respiratórios (bronquite, pneumonia, bronquiolite) em relação àquelas cujos familiares não fumam. Além disso, quanto maior o número de fumantes no domicílio, maior o percentual de infecções respiratórias, chegando a 50% nas crianças que vivem com mais de dois fumantes em casa”, informa Moises Chencinski.
“Considero fundamental que os adultos não fumem em locais onde haja crianças, para que não sejam transformadas em fumantes passivos, pois devido ao seu organismo ainda se encontrar em desenvolvimento, as crianças, especialmente as de pouca idade, são mais vulneráveis aos efeitos da exposição à poluição tabagística ambiental, principalmente dos pais”, defende o médico.
› FONTE: MW-Consultoria de Comunicação & Marketing em Saúde