Apenas 16% fazem o registro diário das despesas e receitas. Maior parte toma conhecimento sobre dinheiro pela mídia e conversando com amigos ou familiares.
Uma pesquisa nacional realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira &39;Meu Bolso Feliz&39; revela que a falta de disciplina é o principal empecilho para um planejamento adequado do orçamento pessoal.
Segundo o estudo, quatro em cada dez consumidores (37%) não se consideram pessoas organizadas financeiramente e 69% dos entrevistados admitem sentir algum tipo de dificuldade para realizar o controle de suas receitas, despesas e investimentos.
Embora seis em cada dez consumidores (59%) tenham afirmado que realizam algum controle sistemático de seu orçamento pessoal - seja com a ajuda de planilhas (32%), caderno de anotações (23%) ou por meio de aplicativos digitais (4%) - apenas 16% dos entrevistados reconhecem fazer o registro das informações diariamente, prática que garante maior efetividade no planejamento. O percentual é um pouco maior entre os homens (19%), entre as pessoas de 25 a 34 anos (21%), com ensino superior (21%) e pertencentes às classes A e B (23%).
Consumo sem planejamento
Disciplina para registrar os ganhos e gastos com regularidade (32%), lembrar-se dos gastos em dinheiro e que, portanto, não constam no extrato bancário (16%), falta de tempo (8%), preguiça (4%), não saber como fazer ou por onde começar (4%) e considerar a tarefa chata ou desimportante (4%) são as principais dificuldades mencionadas pelos brasileiros ouvidos pela pesquisa.
Desse modo, o estudo conclui que para 64% dos entrevistados o controle orçamentário não é considerado uma prioridade em suas vidas. Há ainda aqueles que afirmam gerenciar seus recursos financeiros apenas "de cabeça", representando mais de um quarto (26%) da amostra.
"A pesquisa comprova que a administração eficiente do orçamento pessoal não é muito usual entre os brasileiros. Há uma parcela significativa de entrevistados que não faz um controle sistemático de seus rendimentos e muitos dos que dizem fazer, quando argumentados da forma mais profunda sobre métodos adotados, caem em contradição ou o fazem com uma frequência bastante aquém da adequada. Segundo o levantamento, seis em cada dez consumidores não se sentem totalmente seguros para gerenciar os próprios recursos", afirma a economista Marcela Kawauti.
Para o educador financeiro do portal &39;Meu Bolso Feliz, José Vignoli, a disciplina é parte fundamental para uma vida financeira saudável.
"Somente com um pouco de esforço e vontade de manter uma vida financeira equilibrada é que se adquire este hábito. Não importa a ferramenta utilizada para anotar os gastos, importa que o método seja organizado. Algumas pessoas têm facilidade com planilhas ou aplicativos, mas outras não. O fundamental é sempre registrar tudo o que se ganha e se gasta e jamais confiar na memória porque ela falha", aconselha.
Conhecimento e experiências
O estudo perguntou aos entrevistados quais são os atributos mais importantes para definir uma vida financeira saudável, aplicando notas numa escala que varia de zero a 10.
Itens relacionados ao consumo, como a pesquisa de preços (nota média de 8,6 atribuída pelos entrevistados) e o ato de pechinchar (7,8) foram os que tiveram maior reconhecimento de importância.
Por outro lado, ações que poderiam trazer resultados mais eficazes, como economizar todos os meses (7,0) e fazer o controle do orçamento (7,0) anotando todos os gastos, tiveram importância menor atribuída pelos pesquisados.
"Os entrevistados valorizam atitudes financeiras conscientes, como pesquisar preços, anotar os gastos e pedir descontos. No entanto, o discurso dos consumidores não correspondente fielmente à prática, uma vez que essas atitudes acabam sendo adotadas com menor frequência do que deveriam", afirma a economista.
Exemplo disso é que quase a metade (48%) dos entrevistados afirma não contar com uma reserva financeira para lidar com os gastos extras que surgem no início do ano, como presentes de Natal, impostos, material escolar, entre outros.
A pesquisa traz ainda revelações a respeito das fontes de conhecimento mais comuns por meio das quais os consumidores adquirem informações sobre dinheiro e finanças.
O conhecimento informal, em conversas com familiares e amigos (48%) e a influência de noticiários, jornais, revistas e da imprensa, de modo geral (46%) são as fontes mais utilizadas. Outros 33% disseram navegar em sites e blogs especializados em busca de dicas e melhores práticas.
"Na média, o consumidor sabe pouco sobre como conduzir seu orçamento pessoal. Assim, ele tem pouco a contribuir, no sentido de ajudar os outros consumidores a conhecer e aplicar práticas saudáveis para a vida financeira. Pelo alcance que possuem e pela linguagem didática para o grande público, os veículos de comunicação ganham importância nesse processo", observa a economista do SPC Brasil.
Dentre os consumidores organizados, o aprendizado com experiências difíceis em relação ao dinheiro desponta como a principal razão na mudança de comportamento (42%).
Comportamento de risco
Dois em cada dez (17%) consumidores chegam ao fim do mês sem conseguir pagar as contas em dia. Outros 22% até conseguem honrar com seus compromissos financeiros, mas ficam no zero a zero, ou seja, não sobra nenhum centavo para poupança ou investimento. E, finalmente, 61% dos entrevistados conseguem pagar as contas em dia e guardar alguma quantia para gastos futuro.
Quando falta dinheiro no orçamento para fechar as contas do mês, as estratégias mais utilizadas pelos entrevistados são usar o limite do cartão de crédito para completar as despesas (19%), pedir dinheiro emprestado para amigos ou familiares (17%), utilizar o limite do cheque especial (13%), fazer empréstimos junto a bancos e financeiras (13%) e gastar parte das reservas financeiras que possui (10%).
O levantamento aponta ainda que dentre aqueles que precisam utilizar o cartão de crédito para pagar as contas e gastos imprevistos por não conseguirem fechar as contas do mês, 39% o fazem todos os meses.
Ao analisar hábitos de consumo, o estudo mostra outro dado que acende o sinal de alerta: 35% dos consumidores têm o costume de adquirir produtos sem avaliar a sua condição financeira.
Na avaliação dos especialistas do SPC Brasil, a constatação é reflexo da preferência que o consumidor brasileiro tem por parcelar suas compras sem se preocupar com as consequências que esses compromissos podem ocasionar no futuro.
Ao enfrentar alguma dificuldade financeira, 48% das pessoas ouvidas afirma que conseguiria manter o mesmo padrão de vida por no máximo seis meses, sendo que 14% não chegariam nem a um mês.
"O uso do crédito para complementar a renda mensal é uma atitude muito arriscada porque faz o consumidor gastar um dinheiro que ele não possui. A taxa média cobrada em operações com cartão de crédito gira em torno de 300% ao ano no Brasil. É uma das maiores do mundo", afirma o educador financeiro, José Vignoli.
› FONTE: SPC