O deputado Valmir Assunção (PT-BA) se comprometeu a encaminhar à nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), uma lista de latifúndios existentes no país.
A iniciativa do parlamentar confronta declaração da senadora licenciada do Tocantins registrada na edição de ontem (segunda, 5) do jornal Folha de S.Paulo.
Questionada pela colunista Mônica Bergamo a respeito da necessidade de aceleração da reforma agrária, a ministra disse que “em massa, não”, mas apenas “pontual, para os vocacionados”. “Latifúndio não existe mais. Mas isso não acaba com a reforma”, disse a ministra.
Militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e assentado da reforma agrária, Valmir disse ter recebido a declaração de Kátia com “estranheza”.
O petista cita dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) sobre a dimensão estimada dos latifúndios, que são terras particulares improdutivas, em todo o país: 100 milhões de hectares são propriedade privada.
Diante dos registros oficiais, a ministra contradiz o próprio órgão governamental, aponta o deputado. “Eu me comprometo em entregar a lista dos latifúndios existentes no Brasil, dados que o Incra possui, assim que as atividades da Câmara dos Deputados forem retomadas. Aproveito o ensejo para entregar dados e publicações, como o relatório da Comissão da Verdade – também elaborada pelo Governo – que tratem do massacre ao povo indígena diante da invasão ao seu território pelo latifúndio e pelo agronegócio”, contestou Valmir Assunção, que já havia manifestado objeção à nomeação de Kátia naquela pasta.
Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e produtora rural, Kátia enfrenta forte resistência como ministra da Agricultura não só por parte de gente ligada ao setor, mas também de intelectuais, parlamentares e ativistas.
A rejeição resultou até em manifesto assinado, entre outros, pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, pelo teólogo Leonardo Boff, pelo ex-porta-voz do ex-presidente Lula André Singer e pelo próprio MST. O texto aponta a indicação da senadora como “uma regressão da agenda vitoriosa das urnas” e uma guinada à direita por parte de Dilma.
Por outro lado, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), saiu em defesa da indicação de Kátia – que, em 2010, recebeu do Greenpeace o prêmio “Motosserra de ouro” por sua alegada contribuição para o desmatamento e pela atuação como membro da bancada ruralista.
“Como presidenta da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a senadora Kátia Abreu tem todos os requisitos para articular o setor em torno de uma agenda positiva que inclua a expansão das nossas áreas agricultáveis, siga modernizando o campo e concilie tudo isso com o modelo sustentado de desenvolvimento que buscamos, em harmonia com o meio ambiente”, disse o petista.
› FONTE: Congresso em foco