Já não bastasse cuidar da epilepsia em si, muitas mulheres acabam enfrentando um problema adicional quando engravidam. Antes de mais nada, é preciso entender que há uma relação inequívoca entre epilepsia e o ciclo reprodutivo da mulher.
Sabemos, por exemplo, que as descargas epilépticas acabam influenciando no eixo hipotálamo-hipofisário, que é o principal circuito que regula os hormônios no nosso organismo. Era de se esperar, então, que mulheres com epilepsia convivessem com frequentes alterações hormonais, por exemplo, ciclos menstruais irregulares. Sim, isto acontece...
Adicionalmente, diversas medicações anti-epilépticas podem influenciar o metabolismo dos hormônios sexuais, atrapalhando a sincronia das menstruações e levando a uma maior incidência de cistos ovarianos, alterações de peso, etc.
Por outro lado, alguns estudos já demonstraram que o estrógeno poderia reduzir o limiar para as crises, aumentando a excitabilidade neuronal. Outro dado que mostra esta relação entre epilepsia e ciclo hormonal da mulher seria a maior frequência de crises durante o período menstrual, em particular nos ciclos ovulatórios.
E quando chega a gravidez, o que fazer? Qual a recomendação? Primeiro, uma notícia importante: em geral, a maioria das mulheres grávidas com epilepsia experimenta ou uma redução de suas crises ou a manutenção do padrão anterior. Segundo, existem alguns cuidados que podem ser tomados. São eles:
1-Tentar usar as doses mínimas eficazes dos anticonvulsivantes (ajuste feito pelo neurologista)
2-Se for uma gravidez planejada, e se houver possibilidade, escolher drogas antiepilépticas mais seguras que o neurologista indicará
3-Fazer pesquisa constante de malformação fetal e usar ácido fólico, (recomendado pelo gineco-obstetra)
4-Ter uma boa noite de sono, não esquecer de tomar os remédios, e controlar o stress, evitando hiperventilação
4-Seguimento rigoroso com seu ginecologista e neurologista
Assim, desde que feito com planejamento e um rigoroso seguimento médico, a paciente gestante, e com epilepsia, precisa se sentir segura e saber que, ao seu lado, existem profissionais para auxiliá-la. Neste momento de muitas incertezas, o apoio familiar e de amigos será fundamental.
*Por Dr. André Felício, CRM 109.665, neurologista, doutorado pela UNIFESP/SP, pós-doutorado pela University of British Columbia/Canadá, e médico pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein/SP
› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)