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Mensalões e aeroporto ficam fora de debate

Publicado em 27/08/2014 Editoria: Eleições Comente!


foto: Marina, Aécio e Dilma mediados por Ricardo Boechat: três horas de debate na esteira de nova pesquisa Ibope

foto: Marina, Aécio e Dilma mediados por Ricardo Boechat: três horas de debate na esteira de nova pesquisa Ibope

No primeiro debate entre os presidenciáveis, Aécio e Dilma trocam acusações em torno da Petrobras. Pressionado nas pesquisas, tucano também atacou “nova política” de Marina.

Nem mensalão, nem aeroporto tucano. No debate entre presidenciáveis promovido pela TV Bandeirantes na noite desta terça-feira (26), dois dos temas que poderiam servir de munição entre petistas e tucanos praticamente não foram discutidos – nem o processo que levou à condenação e prisão de petistas históricos, nem a construção de aeroporto em propriedade de familiares do candidato do PSDB, Aécio Neves, durante sua gestão no governo de Minas Gerais.

No vácuo da animosidade entre os principais concorrentes, coube à candidata Marina Silva (PSB) os ataques mais veementes contra Dilma (PT) e Aécio, na tentativa de capitalizar o clamor pela “nova política”, bandeira de sua campanha.

Aliás, os assuntos embaraçosos para petistas e tucanos foram mencionados de uma maneira inusitada na introdução do programa, quando cada um dos sete candidatos participantes respondeu à mesma pergunta sobre segurança pública. A candidata do Psol, Luciana Genro, dispensou sua fala sobre a questão e, sob o pretexto de se apresentar ao grande público, fustigou os três adversários mais fortes de uma só vez: disse que foi expulsa do PT por não ter compactuado com a política praticada “pela turma do Dirceu”, que não aceita práticas como a do “aeroporto tucano” nem é a “candidata da banqueira”, em alusão à amizade de Marina com a herdeira do Itaú, a socióloga Maria Alice Setúbal.

Além de Dilma, Aécio, Marina e Luciana, o debate reuniu outros três candidatos: Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB). Durante cerca de três horas e seis blocos de discussão, os candidatos fizeram perguntas entre si, em sistema de sorteio, e responderam a questionamentos de jornalistas do Grupo Bandeirantes, com comentários sobre suas respostas feitos por adversários escolhidos aleatoriamente pelos profissionais da imprensa.

Confronto direto

A Petrobras foi o tema que provocou a maior troca de farpa entre os candidatos. Instado a fazer pergunta a um dos colegas, Aécio escolheu Dilma. Depois de dizer que a petista levou a companhia a perder metade de seu valor de mercado, após conduzir “com mão de ferro” a empresa, tanto como ministra quanto como presidente, o tucano afirmou que a adversária devia explicações e um “pedido de desculpas” ao país.

“A Petrobras hoje, infelizmente, habita mais as páginas policiais dos jornais do que as páginas econômicas. Não é hora, senhora presidente, de a senhora, aproveitando esse espaço, pedir desculpas aos brasileiros pela gestão temerária da nossa maior empresa?”, provocou o tucano.

“Acho que o senhor desconhece a Petrobras”, contra-atacou Dilma. “Hoje, a Petrobras é a maior empresa da América Latina. Passou de um valor, em seu governo, de 15 bilhões para 110 bilhões de dólares. A Petrobras, durante o período do governo Lula e do meu, descobriu e explorou o pré-sal. Nós levamos 31 anos para produzir 500 mil barris/dia. Vocês disseram que a gente tinha inventado o pré-sal, que dali não saía petróleo. Pois bem: em três anos estamos conseguindo tirar 540 mil barris/dia”, disse a presidenta, para quem a Petrobras, em 2018, produzirá 3,8 milhões de barris/dia, transformando o Brasil em “grande exportador de petróleo”.

Acusando Aécio de leviandade por usar a Petrobras no debate eleitoral, Dilma disse ainda que não foi o governo do PT que tentou, como fez o governo tucano, mudar o nome da empresa para “Petrobrax”, por soar melhor “aos ouvidos ingleses”. Dilma disse ainda que não foi o governo petista, e sim o de Fernando Henrique Cardoso, que afundou uma plataforma de mais de R$ 1 bilhão e que jamais permitiu investigações na empresa, como tem sido feito atualmente pela Polícia Federal, “um órgão do governo que antes não tinha autonomia para investigar”.

“Nunca escondemos debaixo do tapete os malfeitos e crimes de corrupção, nunca tivemos relação com o procurador-geral da República em que era tradicional chamá-lo de ‘engavetador geral da República’”, disse Dilma, referindo-se a Geraldo Brindeiro, chefe do Ministério Público Federal no governo Fernando Henrique Cardoso.

Aécio voltou à carga e respondeu que “leviandade é a forma como a Petrobras vem sendo administrada”. “Não é a oposição que diz, mas a Polícia Federal, que há uma organização criminosa atuando no seio da nossa maior empresa. Um colega seu de diretoria, quando a senhora era presidente do Conselho de Administração, está preso hoje. Todas as denúncias estão caminhando no sentido de benefícios ao seu partido e a partidos políticos que lhe dão apoio”, declarou Aécio.

“Nova política”

Até esse ponto do debate, já perto do fim das três horas de discussão, Marina Silva, que desponta como favorita para um eventual segundo turno na mais recente pesquisa Ibope, era uma das mais instadas a falar, seja por presidenciáveis, seja por jornalistas. Os demais candidatos menos destacados nas pesquisas tentavam dividir a atenção do telespectador com críticas ao atual governo.

No caso de Luciana Genro, a crítica foi desferida contra todos os governos dos últimos 20 anos: para ela, todos com graus variados de “ortodoxia neoliberal”, com base no tripé econômico que reúne combate à inflação, taxa de juros e câmbio. Para a candidata do Psol, Dilma, Aécio e Marina são iguais na política econômica que defendem.

“Os principais três ditos principais candidatos parecem ter diferenças, mas, em essência, defendem os interesses do grande capital financeiro. Com essa agenda, não vão atender às vozes do povo. Eles fingem que estão ouvindo os protestos de junho, mas vão defender os interesses do capital financeiro”, atacou.

Em um dos embates Aécio-Marina, o tucano – agora ameaçado pela própria candidata do PSB de não ir ao segundo turno, segundo o novo quadro eleitoral –, cobrou da ex-senadora “coerência”. “A senhora tem falado muito sobre a nova política. Disse que não subiria no palanque de vários políticos, entre eles Geraldo Alckmin [PSDB], reconhecido como um dos homens públicos mais íntegros deste país. Depois, disse que contaria com o apoio de José Serra, a quem se recusou a apoiar em 2010. A senhora não acha que a nova política não precisa de coerência?”, indagou.

Marina respondeu dando exemplos de alianças que gostaria de fazer. “Me sinto inteiramente coerente em defender a nova política e combater a velha polarização que há 20 anos constitui um atraso para o nosso país. E quando eu disse que não iria subir em palanques, mantive a coerência, porque não queria fortalecer os partidos da polarização. Quando eu digo que quero governar com os melhores, reconheço que há pessoas boas em todos os partidos, mas que os bons estão no banco de reservas”, observou, citando nomes como os dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP), dois de seus colegas mais próximos no Senado.

“Se eu ganhar a Presidência, o [tucano José] Serra não vai caminhar para o caminho mesquinho da oposição pela oposição, como se faz ao Bolsa Família, que o PSDB tem muita dificuldade em reconhecer. E da dificuldade do PT de reconhecer a volta da inflação. Me sinto coerente”, enfatizou.

Ruas

Momentos antes, Marina havia se dirigido a Dilma para dizer que o governo fracassou na resposta às reivindicações de junho – pactos por educação, mobilidade, controle da inflação etc. A presidente rebateu a crítica e afirmou que “tudo deu certo”. A petista citou avanços de sua gestão que, segundo ela, foram impulsionados pelos protestos de junho, como a lei que garante destinação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para saúde, além de programas como o Mais Médicos.

“A cobertura é de 50 milhões de pessoas, em todo o Brasil, que antes não tinham médicos. A inflação está sistematicamente sendo reduzida. Enviamos a reforma política, ela não foi aprovada pelo Congresso”, lembrou Dilma, para quem reformas de fato vão partir de participação popular e instrumentos como plebiscito. A presidente continuou louvando os próprios feitos. “Criamos empregos em um momento em que o mundo inteiro desemprega. Criamos as condições para um novo ciclo de crescimento.”

Marina contestou dizendo ser fundamental para governos avaliar os erros e “reconhecer que eles existem”. “Uma das coisas mais importantes para que a gente possa reconhecer os problemas é, em primeiro lugar, reconhecer que eles existem. Quando a gente não os reconhece, não passa nenhuma esperança para a população de que, de fato, eles serão enfrentados. Esse Brasil colorido que a presidente acaba de mostrar, quase cinematográfico não existe na vida das pessoas”, disse Marina, para quem o governo naufraga devido às alianças baseadas em troca de favores em detrimento do povo.

Alvos prioritários dos ataques, Dilma se dirigiu a Aécio e comparou as gestões petista e tucana. Disse que o Brasil expõe as menores taxas de desemprego mesmo em plena crise financeira internacional. E que, com FHC, o desemprego era mais do que o dobro do que é hoje. Foi quando lembrou as medidas impopulares que Aécio teria defendido em um eventual governo tucano (arrocho salarial, extinção de cargos, aumento da carga tributária etc), constrangendo-lhe a explicitar quais seriam elas.

“Me sinto lisonjeado quando a senhora me olha e enxerga em mim o ex-presidente FHC. Quem sempre discute política olhando pra trás é porque tem medo do futuro ou não tem o que dizer. É preciso que a senhora reconheça que um país que não cresce não gera empregos”, disse Aécio, para quem o governo não tem credibilidade, promove ações desastradas e desconexas, e “surfou nos avanços” do governo antecessor.

“Reconhecer a contribuição de outros governos é um gesto de grandeza que tem faltado ao seu governo”, reclamou Aécio. Dilma rebateu dizendo que “o PSDB quebrou três vezes o Brasil”.

Salada ideológica

Ao longo do debate, Pastor Everaldo e Eduardo Jorge manifestaram posições diametralmente opostas. O primeiro, de olho no eleitorado evangélico, defendeu a família tradicional e a livre iniciativa, com diminuição do peso do Estado na economia. Já Eduardo falou abertamente de temas espinhosos como a descriminalização do aborto e a legalização das drogas como caminho para o combate mais eficaz à violência.

Luciana Genro fez coro a Eduardo Jorge e perguntou a Everaldo – argumentando que não o chamaria de pastor por não gostar de confundir política com religião – se ele não se sentia responsável pelas mortes de homossexuais, uma vez que seu partido, o PSC, desaprova a relação afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Everaldo disse não ser preconceituoso e que “não existe povo mais tolerante do que o cristão verdadeiro”.

Um dos menos acionados no debate, Levi Fidelix batia nas teclas da revisão rigorosa nas contas públicas e da diminuição da dívida interna. E, quando poderia ter partido para o ataque, abriu espaço para Aécio ao perguntar-lhe sobre como lidaria com a questão do transporte público – tema caro aos tucanos de São Paulo, às voltas com denúncias de corrupção no setor. “A grande verdade é que o atual governo demonizou as parcerias com o setor privado”, comentou Aécio.

 

› FONTE: Congresso em foco

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