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“Médicas cubanas têm cara de empregada doméstica”

Publicado em 03/09/2013 Editoria: Saúde Comente!


Basta ouvir atentamente as lições do nativo humanoide P. Karhapitzchewisky para se descobrir que grandes idiotices praticamos na nossa vida (poucos somos isentos desse equívoco, desgraçadamente) quando deixamos a vulgaridade do homo democraticus falar e julgar pessoas ou coisas ou situações com base exclusivamente nos nossos pré-conceitos, pré-juízos ou pré-compreensões, sem atinar para as opiniões contrárias.  

De acordo com o ponto de vista do nativo humanoide citado a jornalista M. B., que já se desculpou, incorreu na idiotice citada ao proclamar, urbi et orbi(em sua rede social), o seguinte: “Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem (sic) cara de empregada doméstica. "Será que são médicas mesmo???” “Afe que terrível”. “Médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência”.

Detalhe importante: a declaração foi feita com base na “cara” das médicas, caras negras ou pardas escuras, caras essas que os arianos (como Hitler) discriminam como feias ou malvadas. Tudo, ela resumiu, “é uma questão de aparência”, mesclando-se a das médicas com a das empregadas domésticas, sendo que estas, consoante a tradição brasileira, são negras, pardas ou brancas pobres.

Para P. Karhapitzchewisky a declaração foi atroz, foi cruel e extremamente desumana. Retrata a ausência absoluta de progresso social. Um atraso incomensurável e um eclipse ético deplorável. Com fundamento nas lições do sociólogo M. Bomfim (A América Latina – males de origem), lições de 1903, ele recordou que “um grupo, um organismo social, vivendo parasitariamente sobre outro, há de fatalmente degenerar, decair, degradar-se”. A visão desfocada e aética das empregadas domésticas revela a falta que faz, em toda América Latina, do progresso social.

E o que se entende por progresso social? M. Bomfim (em 1903) ensinava: “No desenvolvimento da inteligência, pelo esforço contínuo para aproveitar do melhor modo possível os recursos da natureza, da qual tiramos a subsistência, e no apuro dos sentimentos altruísticos, que tornam a vida cada vez mais suave, permitindo uma cordialidade maior entre os homens [seres humanos], uma solidariedade mais perfeita, um interesse maior pela felicidade comum, um horror crescente pelas injustiças e iniquidades...”.

Ora, prossegue o autor, uma sociedade que viva parasitariamente sobre outra [sobre escravos, sobre pessoas escravizadas, sobre assalariados que recebem baixíssimo salário] perde o hábito de lutar contra a natureza; não sente necessidade de apurar os seus processos, nem de pôr em contribuição a inteligência, porque não é da natureza diretamente que ela tira a subsistência, e sim do trabalho de outro grupo; com o fruto desse trabalho ela pode ter tudo. Não há mais necessidade de ver, observar, guardar a experiência e manter-se em contato com a natureza (...) em tais condições, é lógico que a inteligência não poderá progredir, decairá (...) Como se poderão desenvolver e apurar os sentimentos altruísticos, de justiça e equidade, de cordialidade e amor, numa sociedade que sucede viver [há cinco séculos], justamente, de uma iniquidade – do trabalho [escravocrata] alheio?”

 

*LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e coeditor do portal atualidades do direito.com.br

 

 

 

 

 

› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)

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