Comissão da Verdade ouve 10 pessoas em Criciúma
Publicado em 07/05/2014
Editoria: Geral
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A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright realizou, nesta segunda-feira, 5, na Câmara de Vereadores de Criciúma, audiência pública para ouvir torturados ou parentes de presos políticos na época da ditadura militar.
Ao longo da noite, 10 pessoas foram ouvidas, e todos os depoimentos foram gravados. “O objetivo é reunir informações e entender o que aconteceu no passado e trazer isso para a história do presente”, explica Anselmo da Silva Livramento Machado, advogado e membro da Comissão Estadual da Verdade
. “Com esse trabalho o que por muitos anos tentou ser escondido vem à tona. Vamos conhecer como a ditadura agiu em Santa Catarina e levar essas informações para a Comissão Nacional da Verdade”, complementa.
Em Santa Catarina já são mais de 600 casos registrados. No Sul, acredita que são mais de 170 vítimas, pelo menos três pessoas devem ter sido mortas pelo Golpe Militar.
Os depoimentos emocionaram boa parte dos presentes na audiência. José Carlos Mello não conteve as lágrimas durante o depoimento. Ele era filho de João Mello, preso político. “Eu era criança, tinha apenas sete anos quando o golpe começou, em 1964. Logo no início, em um dia que eu voltava da escola, ao chegar perto de casa, vi que algo estava errado. Eram muitos militares, todos em frente a minha casa. Muitas armas pesadas. Lembro-me dos fuzis e baionetas”, diz.
“Meu pai foi levado preso. Ele era trabalhador e não queria o mal de ninguém. Era mineiro e foi preso porque participava do sindicato da categoria. Não sei dizer se ele foi torturado durante os meses que ficou longe”, conta. João foi libertado numa noite chuvosa de inverno. Segundo o depoente, no dia em que ele foi solto, estava muito doente. “Era tarde da noite quando alguém bateu na porta da minha casa. Era meu pai, encharcado. Ninguém foi capaz de ajudar ele com uma passagem de ônibus. Morreu pouco tempo depois”, encerrou.
A deputada Ada Faraco De Luca também prestou depoimento. Ela é filha de Addo Vanio Faraco, preso político e que na época também era deputado e foi torturado. “Meu pai foi preso numa madrugada. Invadiram a nossa casa; eram dois jipes e quatro caminhões, muitos militares fortemente armados. Levaram meu pai como se fosse um criminoso perigoso”, destaca. “Ele olhou para mim e minha mãe e falou: vou prestar um depoimento e já volto. Foram oito meses, quatro deles sem ver a luz do sol. O país apagou a existência de meu pai. Minha mãe recebia pensão como viúva, um absurdo”, lembra.
Além dos dois, outras oito pessoas foram ouvidas. A Comissão da Verdade Paulo Stuart Wright realiza audiências públicas em todo o Estado. Todos os depoimentos e documentos recolhidos serão entregues, até o fim de julho, para a Comissão Nacional da Verdade.
“Precisamos conhecer a nossa história. A ditadura militar existiu no Brasil e não pode ser apagada. Os envolvidos precisam ser punidos e as vítimas ressarcidas de todas as maneiras – com indenizações e pedidos de desculpas do Estado”, destaca Machado. Desde 2011 já foram mais de 66 mil pedidos de anistia, 30 mil foram deferidos. “Já realizamos no Estado quatro audiências, outras duas estão marcadas. Se for necessário, novas audiências serão realizadas”, encerra.
› FONTE: Governo do Estado de SC
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