Uma disfunção do desenvolvimento que compromete a capacidade de comunicação, socialização e comportamento do indivíduo. O autismo, que de acordo com dados atuais do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, atinge em média um a cada 50 nascidos, ainda é envolto em diversos mitos e incertezas.
Para divulgar a necessidade do diagnóstico precoce da síndrome, as formas de tratamento e a legislação existente, teve início na manhã desta terça-feira (18), no Clube Aqua Camponovense, de Campos Novos, a primeira etapa do clico de Seminários Descentralizados de Estudo e Conscientização sobre o Autismo promovidos pela Assembleia Legislativa, por meio da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência, presidida pelo deputado José Nei Ascari (PSD).
O evento, que conta com a parceria da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, da Associação Catarinense de Autismo (ASCA) e da Associação de Pais e Amigos dos Autistas (AMA), prossegue em Campos Novos até o dia 20. Na sequência, recebem o debate os municípios de Criciúma (02/04), Itajaí (07/04), Balneário Camboriú (07/05), Florianópolis (13/05), Joinville (22/05), Imbituba (25/05), Fraiburgo (01/08) e Jaraguá do Sul (16/09).
Estado inova na legislação sobre autismo
De acordo com a Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência, estima-se, que atualmente 70 milhões de pessoas em todo o mundo apresentem algum grau de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Dois milhões somente no Brasil.
As estatísticas, com base em dados da Organização das Nações Unidas, demonstram ainda que a incidência do autismo entre as crianças, principalmente do sexo masculino, seja maior do que a soma de todos os casos de Aids, diabetes ou câncer na mesma faixa etária. "Esse número vem crescendo constantemente. Se é epidemia, não posso afirmar, mas os números não mentem", afirmou a assessora parlamentar da comissão, Janice A. Steidel Krasniak.
Janice, que apresentou uma palestra sobre Políticas Públicas para Pessoa com Espectro Autista, reafirmou a importância da criação de uma rede de proteção oficial aos atingidos pelo TEA e do levantamento de dados reais do número de autistas no estado de Santa Catarina, tendo em vista que 90% dos casos no Brasil ainda estão por ser identificados. "Falta formação e informação às equipes multidisciplinares responsáveis pela realização dos diagnósticos".
Ela fez um relato da aprovação da Lei Federal nº 12.764 de 2012, conhecida como Lei Berenice Piana, que instituiu os direitos da pessoa com espectro autista e da criação de uma legislação estadual nos mesmos moldes. "Acompanhamos toda a lei nacional e por isso aprovamos, em 2013, a Lei Estadual nº 16.036, de procedência do deputado José Nei Ascari e coautoria do deputado Carlos Chiodini (PMDB)"..
"Nosso estado foi o primeiro a reconhecer a pessoa com espetro autista como deficiente, dando-lhes todos os direitos pertinentes e assegurando a participação da comunidade nas decisões referentes a novas políticas públicas", disse Janice.
Informação e preconceito
Formado majoritariamente por profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, o público que compareceu ao seminário também era formado em grande parte por pessoas em busca de informações sobre a melhor forma de auxiliar familiares diagnosticados com o autismo.
Este foi o caso de Edgar Brandini, que se deslocou de Lacerdópolis até Campos Novos em busca de informações sobre o transtorno que atinge o filho Mateus, de três anos.
O menino, antes agitado e comunicativo, começou a demonstrar os primeiros sinais da síndrome antes dos dois anos, ficando apático e circunspecto. A felicidade transmitida por Mateus, disse, deu lugar ao desespero, ainda mais diante da falta de informações sobre a causa da mudança de comportamento e das dificuldades encontradas na busca por um tratamento adequado.
"Fomos do céu ao inferno em pouco tempo. Além da tristeza pelo estado de Mateus, perdemos contato com muitos amigos e familiares, que se afastaram por falta de conhecimento com a síndrome", afirmou emocionado.
Outra dificuldade, disse Edgar, foi obter ajuda especializada para o tratamento e a educação de Mateus. A primeira orientação veio por meio da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que fez os primeiros encaminhamentos a profissionais especializados e também deu suporte psicológico à família. "A maioria dos professores não conhece o autismo e só vão procurar se especializar quando se deparam com um caso."
Para a presidente da ASCA, Marlete Grando, ainda que se disponha de uma legislação adequada, sem a conscientização da sociedade não será possível alcançar o nível necessário no tratamento e na aceitação do autista na sociedade.
Eventos como o seminário, disse, vêm justamente para suprir essa lacuna, ao levar informações sobre o TEA ao maior número de pessoas. "O Estado já vem há algum tempo regulamentando o tratamento adequado a pessoas com necessidades especiais. Porém há muito ainda por fazer e é em eventos como esse que as pessoas podem conhecer e debater sobre seus diretos."
› FONTE: ALESC