Levantamento da Agência Pública mostra que empréstimos federais para construção de estádios em nove das 12 cidades sede foram maiores, até setembro, do que as verbas para a área. Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo são as exceções.
Nove dos 12 municípios sedes da Copa do Mundo 2014 receberam mais repasses federais para obras do evento do que para a educação. Levantamento feito pela Agência Pública a partir de dados da Controladoria-Geral da União (CGU) revela que, dos municípios que sediarão jogos do mundial de futebol, apenas Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo gastaram menos com a Copa do que com a área educacional.
O cálculo da Agência Pública levou em conta apenas os repasses federais para os municípios, sem os valores desembolsados pelos estados e pelas próprias prefeituras. Além disso, o financiamento tomado pelas unidades da federação para construir ou reformar as praças esportivas, no valor máximo de R$ 400 milhões, devem ser pagos com juros ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em Recife, por exemplo, a construção da Arena Pernambuco recebeu um financiamento três vezes maior do que o que o governo federal repassou para a educação na capital pernambucana. “Copa do Mundo, eu abro mão. Quero dinheiro pra saúde e educação”.
Este foi um dos gritos mais ouvidos durante as manifestações de junho em diversas capitais brasileiras. De fato, ao comparar os investimentos do governo federal com as bandeiras da população, as prioridades parecem não ser as mesmas.
Cidade sede |
Educação |
Financiamento |
Belo Horizonte |
R$ 238 milhões |
R$ 400 milhões |
Brasília |
R$ 33 bilhões |
- |
Cuiabá |
R$ 220 milhões |
R$ 339 milhões |
Curitiba |
R$ 99 milhões |
R$ 234 milhões |
Fortaleza |
R$ 318 milhões |
R$ 351 milhões |
Manaus |
R$ 274 milhões |
R$ 400 milhões |
Natal |
R$ 149 milhões |
R$ 396 milhões |
Porto Alegre |
R$ 143 milhões |
R$ 275 milhões |
Recife |
R$ 123 milhões |
R$ 400 milhões |
Rio de Janeiro |
R$ 1,6 bilhão |
R$ 400 milhões |
Salvador |
R$ 133 milhões |
R$ 323 milhões |
São Paulo |
R$ 465 milhões |
R$ 400 milhões |
Exceções
Vista interna do Estádio Nacional Mané Garrincha
Das sedes, a única que não teve investimento direto da União na construção do estádio foi Brasília. Toda a verba usada até agora para a reforma do Estádio Nacional Mané Garrincha saiu dos cofres do governo do Distrito Federal. Mais especificamente da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), que tem o governo federal como sócio minoritário.
Entre 2010 e setembro de 2013, informa a Agência Pública, a capital do país recebeu R$ 33 bilhões para a educação. O valor entra na conta do GDF pelo Fundo Constitucional do DF, uma espécie de aluguel pago pela União por Brasília ser a sede dos poderes da República. A verba deve ser usada exclusivamente em educação, saúde e segurança pública.
Para financiar a reforma do Maracanã, o governo do Rio de Janeiro tomou emprestado do BNDES R$ 400 milhões. De 2010 até setembro, a União repassou R$ 1,6 bilhão para a educação. Em São Paulo, cujo estádio está sendo construído pela iniciativa privada, houve a tomada de R$ 400 milhões. Maior cidade do país, a capital paulista teve o repasse de R$ 465 milhões.
Legado
A Pública elencou os investimentos públicos relacionados ao evento e dividiu-os entre os que ficarão como desejável legado para população brasileira (aeroportos, portos e mobilidade urbana) e os que foram feitos exclusivamente para a realização do mundial – como os estádios, os gastos em telecomunicações, segurança, turismo, etc. – sempre utilizando como dado os valores contratados (consequentemente comprometidos) de acordo com o Portal da Transparência da CGU.
Só nas estruturas provisórias, montadas para receber espaços de mídia, exposição comercial e atendimento a torcedores VIP, entre outras coisas, foram gastos R$ 208,8 milhões em verbas estaduais nas seis sedes da competição de 2013.
De acordo com o levantamento da Pública, o governo já investiu R$ 7,5 bilhões em estádios, R$ 814 milhões em obras nos entornos das praças esportivas, R$ 422 milhões em segurança, R$ 226 milhões em turismo, R$ 167 milhões em telecomunicações e mais R$ 24 milhões em outras ações.
Já no legado que será deixado para a população houve um investimento um pouco menor. O grosso dos recursos foram destinados para obras de mobililidade – R$ 6,5 bilhões – e aeroportos – R$ 1,7 bilhão. Outros R$ 528 milhões tiveram como destino os portos brasileiros.
No entanto, obras como o monotrilho da Linha 17 – Ouro, em São Paulo, orçada em R$ 2,8 bilhões, e a linha 1 do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), em Brasília, saíram da matriz de responsabilidades e devem demorar para sair do papel.
› FONTE: Congresso em Foco