Você acompanhou a discussão nas olimpíadas de Tóquio? Fique por dentro desse debate e os efeitos que ele provocou
As olimpíadas de Tóquio, realizadas em 2021, trouxeram várias discussões importantes. Além da conquista de medalhas, atletas de diferentes países contribuíram para o debate público.
A ginasta Simone Biles surpreendeu o mundo ao anunciar que não disputaria várias finais de sua modalidade porque precisava cuidar de sua saúde mental. Já a equipe alemã suscitou debates sobre um tema ainda menos discutido: as diferenças nos uniformes de atletas mulheres e homens.
A equipe alemã feminina inovou na ginástica artística ao entrar no tablado com uniformes diferentes: calças legging em vez dos collants justos que deixam as pernas e as virilhas à mostra. Antes de escolher shorts confortáveis para praticar as suas atividades físicas favoritas, confira mais sobre essa discussão!
As roupas a serem usadas por ginastas são definidas pelo código de vestimenta da modalidade, o que significa que as equipes que não as vestirem podem ser penalizadas. Esse código estabelece que as ginastas mulheres devem vestir o collant, veste bastante justa que deixa as pernas e as virilhas delas totalmente à mostra.
A ginasta Sarah Voss foi a ginasta alemã que liderou o protesto contra a sexualização do corpo das mulheres, já que as imagens das ginastas com essas vestes são exploradas depois em sites de conteúdo adulto.
Vale notar que, no fim de julho de 2021, a seleção norueguesa feminina de handebol de praia não vestiu o traje tradicional — shorts e biquíni. A decisão de não vestir o shorts fez a seleção ser multada em 1500 euros por "vestuário impróprio", penalidade que foi paga pela cantora P!nk.
A grande discussão sobre os protestos por trás dos uniformes é a sexualização do corpo das mulheres. A diferença entre os uniformes masculinos e femininos é notável: enquanto eles podem vestir shorts mais largos e confortáveis (o que impacta diretamente a performance esportiva), elas devem manter o desempenho em uniformes extremamente apertados e curtos.
Outro ponto importante da discussão é a impossibilidade de as próprias atletas vestirem as roupas que lhe são mais confortáveis. Se no início do século XX as vestes das mulheres nos esportes tinham que ser discretas e longas (o que também atrapalhava o movimento delas), hoje a regra é que a roupa seja curta e apertada.
Em ambos momentos históricos, as mulheres não têm poder de decisão sobre as próprias roupas — fenômeno que, muitas vezes, também ocorre fora das quadras.
Outra crítica feita às normas dos uniformes é que eles não são pensados apenas pensando na performance técnica, mas também para agradar os espectadores (em sua maioria, homens).
Ao perceber que essa proposta dava audiência e mais dinheiro com a publicidade de uniformes esportivos, que passaram a apostar cada vez mais na estratégia de exibir mais corpos de mulheres, as federações decidiram explorar esse novo jeito de se vestir, especialmente a partir dos anos 1980.
Vale dizer que no futebol e no basquete as mulheres permanecem com o direito de usar uniformes mais confortáveis e largos, diferentemente do que ocorre nas quadras de vôlei, nos esportes na areia e no tênis.
A questão dos uniformes evidencia o machismo no mundo esportivo e envolve as federações do mundo inteiro. O primeiro passo para alterar essa situação é consultar primeiramente as próprias atletas, já que são elas que vão vestir os uniformes durante as práticas esportivas.
Esse debate é importante e abre espaço para que outras discussões sobre o machismo dentro e fora do mundo esportivo ganhem espaço na mídia e em diferentes países.
› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)