A criação de áreas protegidas tem sido um dos caminhos mais eficazes para preservar espécies ameaçadas de extinção e tentar reverter esse quadro. Pesquisadores em todas as regiões do país mobilizam-se para identificar novas populações de animais e articulam-se para estabelecer unidades de conservação para a manutenção e proteção das espécies. Essa foi parte da estratégia adotada por duas iniciativas apoiadas pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para cuidar de aves ameaçadas, como o periquito-da-cara-suja e a rolinha-do-planalto. Os trabalhos desenvolvidos no Ceará e em Minas Gerais também servem de exemplo para o Dia Nacional de Defesa da Fauna, lembrado em 22 de setembro.
No Ceará, o projeto “Aves da Serra do Baturité”, da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) e encabeçado por Fábio Nunes, priorizaçõesde conservação direcionadas a 12 espécies de aves, como o periquito-da-cara-suja – considerado em perigo de extinção, com cerca de 300 indivíduos na Serra do Baturité. Entre as iniciativas estão a instalação e o monitoramento de ninhos artificiais para estimular a reprodução na natureza e evitar a retirada de filhotes por caçadores; a sensibilização em escolas e comunidades contra o tráfico de animais; e censos populacionais de aves.
Segundo Nunes, essas aves precisam de uma mata conservada para viver, pois elas se adaptam somente onde não existe intervenção urbana. “O periquito-da-cara-suja é a espécie símbolo do nosso projeto e ele está presente apenas na Área de Proteção Ambiental da Serra do Baturité. Por essa característica, de ser uma espécie sensível a ações humanas, é necessário que sejam criadas mais áreas restritas de proteção integral para ajudar na conservação dessas aves”, explica o responsável técnico pelo projeto.
Até agora, o projeto ajudou na criação de duas áreas protegidas na região: a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sítio Lagoa e uma unidade de conservação (UC) na categoria Refúgio de Vida Silvestre. Ambas são de extrema importância para a conservação do periquito-da-cara-suja e de outras aves, como o uru e o tucaninho-da-serra-do-baturité. “Projetos como esse são essenciais para conservarmos as áreas naturais remanescentes de nossos biomas e preservarmos as espécies que nelas sobrevivem. A criação de unidades de conservação tem sido a melhor estratégia para garantir que os animais silvestres se mantenham e reproduzam no seu habitat”, afirma o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Emerson Antonio de Oliveira.
Rolinha-do-planalto
Outro projeto apoiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza foca na conservação da rolinha-do-planalto, espécie rara e exclusiva do Brasil que estava desaparecida há 75 anos, sendo redescoberta em 2015, em Botumirim (MG). A ave é uma das mais raras do mundo e seu status atual é “criticamente em perigo de extinção”, de acordo com a BirdLife International/IUCN (2017).
Diante desse cenário, em 2016, a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil) iniciou o projeto de conservação da rolinha-do-planalto, focado em expedições para localizar novas populações – o que ainda não ocorreu – , na articulação para a criação de unidades de conservação e estudos sobre a ecologia da espécie. O trabalho resultou na criação, neste ano, de uma reserva e de um parque estadual para a proteção da espécie. “A reserva, que possui 593 hectares, foi comprada pela SAVE em fevereiro deste ano. Lá, são feitas pesquisas, buscamos novas populações e engajamos a comunidade local por meio da educação ambiental e da promoção do turismo, principalmente da observação de aves”, conta o responsável técnico do projeto, Albert Gallon de Aguiar.
Já o Parque Estadual de Botumirim, criado em julho de 2018, possui 36 mil hectares que protegem toda a população conhecida da espécie – são cerca de 15 indivíduos identificados no local. “A criação da reserva particular e de um parque estadual eram dois grandes objetivos que foram atingidos pelo projeto. Entre as muitas ameaças à biodiversidade, a perda de habitat é a maior delas. Sem habitat natural, grande parte das espécies simplesmente caminham para a extinção e, por isso, o primeiro passo que devemos dar é proteger esses ambientes”, comemora Aguiar.
Para o diretor da SAVE Brasil e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Pedro Develey, a descoberta de novas populações das espécies gera esperança, mas também muita responsabilidade. “Agora, é importante pensar em medidas de manejo conscientes visando o aumento da população da rolinha-do-planalto. Por mais que a área e os habitats estejam protegidos, a espécie continua vulnerável e por isso a importância de continuar atuando com ações de conservação”, conclui.
› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)