Além do crescente aumento das mortes por suicídio, as tentativas de suicídio são ainda mais frequentes – ocorrem cerca de 20 a 30 vezes mais.
O suicídio é considerado um comportamento resultante da interação de diversos fatores, como socioculturais, vivências traumáticas, dificuldades na primeira infância, história psiquiátrica e vulnerabilidade genética. É importante destacar que nenhum desses fatores isolados leva ao suicídio, uma combinação desses aspectos que leva a esse comportamento.
Os fatores descritos como os mais importantes no comportamento suicida são: transtorno depressivo, abuso de drogas e tentativa prévia de suicídio. A presença de frases ou comentários com conteúdo permeado por desesperança, desespero ou desamparo, também indica o risco.
Devemos estar alerta a pessoas que estão passando por um período de luto ou período de dificuldades financeiras ou problemas legais, além de pessoas que não tem suporte familiar, sofrem de algum transtorno mental, já tentaram suicídio previamente ou tem acesso a meios letais.
Alguns fatores relacionados a homens sofrendo depressão também são importantes, pois eles procuram menos ajuda, são menos diagnosticados com depressão e aderem menos ao tratamento. A depressão no homem pode aparecer mais com sintomas de irritação e isolamento.
O risco é menor quando a doença é tratada. Assim, o tratamento adequado de pessoas com sofrimentos emocionais, principalmente depressão, parece ser a forma mais efetiva de prevenir.
Também é necessário desmistificar que não se pode falar sobre suicídio diretamente, essa é uma crença equivocada até nos profissionais de saúde. A maioria das pessoas com pensamentos suicidas se sentem aliviadas e acolhidas quando podem expor seus sentimentos e pensamentos.
Abaixo, algumas perguntas e respostas sobre o suicídio:
Qual é a incidência dos casos de suicídio no País? Crescem ou diminuem?
Um estudo do Ministério da Saúde no período de 2011 a 2016 mostrou um aumento das tentativas de suicídio de mais de 200%, a maioria na faixa etária de 10-39 anos e na região Sudeste e Sul do país. Em relação a óbitos por suicídio, as taxas também aumentaram em ambos os sexos, o risco aumentou ao longo desse período de 8,4 para 9,1/100.000 habitantes no sexo masculino e 2,3 para 2,5/100.000 habitantes no sexo feminino. Assim a incidência de casos de suicídio está aumentando no país, mesmo assim os números brasileiros devem ser analisados com cautela, pois há uma subnotificação do número real de suicídios e há uma grande variabilidade regional das taxas - as maiores taxas de óbitos por suicídio foram registrados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Quais são as principais causas?
O suicídio é um fenômeno complexo e multicausal, possui fatores biológicos, sociais, econômicos e a história de vida pessoal. A tentativa de suicídio é a expressão de um processo complexo que se desenvolve de forma gradual. Atualmente, sabe-se que mais de 90% das pessoas que cometeram suicídio estavam adoecidos mentalmente, ou seja, enfrentavam alguma doença mental, sendo principalmente a depressão e o abuso de álcool e outras drogas. Portanto o tratamento precoce e adequado de uma enfermidade mental pode ajudar na prevenção do suicídio.
A imprensa não publica os casos de suicídio para evitar estímulo. O que acha disso?
É importante falar do tema sem alarmismos. Temos que falar de forma responsável sobre o fenômeno do suicídio. Se falarmos dessa forma, na intenção de combater o estigma e conscientizar sobre tratamento e prevenção, podemos contribuir para a redução as taxas. Entretanto, publicar casos individuais com alarmismos, sem nos preocuparmos se quem lê se encontra em uma situação vulnerável, facilitaremos o chamado "efeito de contágio", prejudicando a saúde de pessoas vulneráveis de forma determinista.
Como enfrentar esse problema?
De forma coletiva, conscientizar as pessoas da possibilidade hoje de tratamento adequado. Existe efetividade nos tratamentos psicológicos e nas medicações psiquiátricas, temos que encaminhar as pessoas que estão em risco para ajuda especializada (psicólogos, psiquiatras e médicos). De forma individual, devemos nos despir dos julgamentos sobre quem passa por um sofrimento mental. Não podemos dar margens para julgamentos como "problema de carácter", "fraqueza", "sem vergonhice", temos que enfrentar as doenças mentais como qualquer doença que possui tratamento específico e efetivo. Da mesma forma que vamos a um cardiologista sem estigma, devemos buscar ajuda de um psiquiatra, para cuidar de nossa saúde mental.
Por que o suicídio ainda é encarado como um problema quase invisível?
Principalmente devido ao estigma. Falar de suicídio é um tabu para a maioria das pessoas. Cerca de pelo menos 17% da população brasileira já pensaram algum momento, em tirar a própria vida. Evitamos falar desses pensamentos e sentimentos difíceis, mas eles são frequentes. Falar sobre suicídio não aumenta o risco, muito pelo contrário, falar sobre pode trazer alívio pra quem enfrenta o problema hoje.
As pessoas estão cada vez mais conectadas e excluídas socialmente. Isso favorece atitudes extremas?
Depende de como utilizamos esses recursos. Hoje, estamos expostos constantemente a muitas informações. Redes sociais baseadas principalmente em imagens podem trazer prejuízos para quem se encontra em situação de saúde mental vulnerável. A vida nas redes sociais ganhou poder em relação à vida offline, infelizmente a perfeição da vida virtual é um mito. Vida alguma é perfeita, temos que lidar com as frustrações diárias e dificuldades pessoais, é importante saber enfrentar de forma equilibrada. Essa é uma área em estudo na ciência.
› FONTE: Assessoria de Comunicação da ACP