O animador Paulo Henrique Silva Rodrigues dos Santos entra para o RankBrasil por criar o Primeiro desenho animado em Libras / Foto: Arquivo recordista
O animador de Itajaí (SC), Paulo Henrique Silva Rodrigues dos Santos entra para o RankBrasil em 2018 por um recorde que mostra talento, criatividade e preocupação social. Ele criou o Primeiro desenho animado em Libras (Língua Brasileira de Sinais), que deve fazer a alegria de muitas crianças surdas, além de promover a inclusão.
Com oito minutos de duração, o primeiro episódio da série ‘Min e as Mãozinhas’ possui todas as interações entre personagens utilizando a língua de sinais, sem necessidade de legendas ou intérprete de janela. O desenho deve estrear em setembro no cinema de Itajaí e depois será disponibilizado no YouTube para que todos tenham acesso.
Natural de Ribeirão Pires (SP), o recordista conta que o projeto levou ao todo quatro meses entre planejamento, pesquisas e testes para ver o que funcionava. “Com a proposta formada, a produção do primeiro episódio demorou um mês”, revela.
Para a execução, Paulo enfrentou várias dificuldades. “Estava mergulhando em um assunto que não tinha conhecimento, com uma proposta inteiramente nova, sem referência para me apoiar e para um público com o qual eu não tinha contato frequente”, conta. Segundo ele, outro desafio foi pensar em como iria ensinar um idioma, deixando a criança totalmente imersa nele, mas tornando isso divertido.
O projeto foi criado com dois objetivos. O primeiro, conforme o recordista é apresentar uma opção de desenho para que as crianças surdas possam simplesmente sentar e assistir. “Outra meta é ensinar a língua de sinais para as pessoas, visando a inclusão social”. O animador afirma que a forma mais eficaz de juntar surdos e ouvintes não é forçar o surdo para a realidade do ouvinte, e sim o contrário, levando a realidade do surdo para o ouvinte.
Paulo comenta que a conquista do recorde junto ao RankBrasil é uma maneira de valorizar ainda mais este trabalho. “Acredito que será um marco histórico para a língua de sinais, também incentivando os criadores de conteúdo a pensar nas pessoas com deficiência auditiva”, completa.
‘Min e as Mãozinhas’
O primeiro episódio conta a história de uma menina surda chamada Yasmin, conhecida como Min. Ela estava na casa da árvore quando um esquilo encontrou pegadas no chão e quis saber de quem eram. Eles vão até a floresta para descobrir quem deixou os sinais pelo caminho. Nesse passeio, encontram o elefante, o gato e o sapo. Na Língua Brasileira dos Sinais, Min ensina a todos como dizer o próprio nome e a falar ‘oi’.
Preocupação social
A ideia de criar um desenho em Libras surgiu de duas experiências. Na primeira, depois de ir a um casamento, o animador se sentiu perdido ao tentar se comunicar com a irmã da noiva, que era surda. “Aprendi tanta coisa na escola, mas não conversar na língua dos sinais. Isso me pareceu uma falha nas grades curriculares”, diz.
Outra experiência veio do relato de uma amiga do recordista. Ela estava em um ônibus e tinha um surdo que esqueceu o carregador de celular. O deficiente auditivo tentou pedir emprestado para as pessoas à sua volta, mas era ignorado. “Minha amiga o ajudou, ele fez sinal de ‘obrigado’, que ela entendeu por contexto”.
A partir dessas observações, Paulo pensou que desde cedo as crianças deveriam aprender a se comunicar com a comunidade surda, saber pelo menos um pouco para conviverem e interagirem em situações de emergência. “Por lidar com crianças no meu trabalho quis ajudar de alguma forma mostrando pelo menos este básico”, comenta.
Inclusão
Junto com a primeira temporada do desenho animado será criado um material didático e oferecido para prefeituras e escolas particulares. “A finalidade é levar o ensino de Libras às crianças e assim ajudar no crescimento de uma geração de pessoas com capacidade para serem mais inclusivas”.
Segundo ele, inicialmente a ideia é mostrar palavras para um convívio básico e nas próximas temporadas será possível estruturar diálogos mais complexos, uma vez que as crianças terão um conhecimento maior, a partir do que foi ensinado nos episódios anteriores.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) existem no Brasil quase 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva. O recordista acredita que quanto mais material é criado com o objetivo de mostrar diferentes realidades, mais as pessoas têm consciência de que aquela realidade existe, podendo se preparar para ela.
Paulo destaca ainda que no caso de desenho animado, esse contexto é apresentado diretamente para as crianças, gerando representatividade e interesse na língua de sinais. “Isso faz com que a própria criança queira saber mais e com isso teremos uma geração futura muito mais inclusiva”, finaliza.
› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)