Faleceu na manhã da última quarta-feira (28), aos 85 anos, o professor, escritor, compositor e historiador Vicente de Paula Telles. Ele nasceu na histórica cidade de Irani, localizada no meio oeste catarinense, distante 530 km da Capital, foi lá onde viveu até seus últimos dias, Mestre Vicente foi a voz do Contestado. O velório ocorrerá a partir das 15h na Câmara de Vereadores de Irani e o sepultamento está marcado para às 8h desta sexta-feira (29).
A Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e o Conselho Estadual de Cultura (CEC) expressam os seus pesares pelo falecimento do artista. Vicente de Paula dedicou as últimas quatro décadas à missão de tirar das sombras parte ainda sepulcra do legado da Guerra do Contestado (1912-1914): a do povo caboclo, no caso os “vencidos” daquele que foi o maior conflito bélico ocorrido no Brasil. Na colheita de relatos e histórias de remanescentes e descendentes construiu um peculiar e rico cabedal memorial que se traduziu em textos, palestras e na música. Sua última obra, a “Aquarela do Contestado”, virou um espetáculo encenado em março deste ano em Florianópolis.
Neto de um caboclo que combateu ao lado do Exército Encantado liderado pelo monge José Maria, Vicente compôs a sua aquarela tendo como cenário a batalha que desencadeou a guerra, em 22 de setembro de 1912. Ocasião em que os caboclos impuseram uma sangrenta derrota aos soldados comandados pelo coronel João Gualberto.
O palco da Batalha do Irani se avizinha a menos de um quilômetro da propriedade onde viveu até seus últimos dias e lá ainda repousam os restos mortais dos caboclos e do monge José Maria. Em sua residência recebia rotineiramente grupos de estudantes, pesquisadores de universidades e interessados na Guerra do Contestado. Integrando-se aos espaços sagrados, como o Cemitério, o Museu e o Parque do Contestado, Vicente era um memorial vivo sobre a história daquele conflito.
O Contestado é marcado pela sua complexidade: da discussão dos novos limites geográficos entre Santa Catarina e Paraná, a sanha por poder dos coronéis e líderes políticos locais e a chegada da Estrada de Ferro Brasil-Rio Grande e a companhia norte-americana Southern Brazil Lumber Southern Brazil Lumber & Colonization Company, ambas controladas pelo magnata nova-iorquino Percival Farquhar. A população cabocla, até então dedicada à cultura de subsistência e à exploração da erva mate, se viu à margem do processo, ou melhor, expulsa de suas terras, marginalizada e perseguida. Mas por anos, esse lado da Guerra permaneceu em silêncio, foi subjugado em massacres e numa verdadeira limpeza étnica, até que, ao final da década de 1970, Vicente resolveu dar voz a saga cabocla.
O Floripa News também expressa seus pêsames e se solidariza com os familiares, amigos e o povo de Irani.
› FONTE: Assessoria de Comunicação do Governo de SC