A criançada da Creche Municipal Maria Nair da Silva, na fazenda do Rio Tavares, aventurou-se pelo espaço da unidade para ter mais contato com a natureza. Descobriram insetos, formigas e formigueiro, folhas, frutos, cascas de árvores e de pinhão, flores, sementes, gravetos. Encontraram até cogumelos que cresceram em madeiras.
O grupo de cinco anos de idade, da professora Sara Duarte Souto-Maior e das auxiliares Adriana Alves Madalena e Suzamar de Souza Leite Antunes, coletou muitas coisas do que viu no terreno da creche. Parte do que foi arrecadado teve como destino outras crianças, mas da cidade de São Paulo, que frequentam a Escola Alfa. As duas unidades participaram do “Caixas da Natureza”, um projeto criado pelo movimento “Ser Criança é Natural”, do Instituto Romã. O objetivo do projeto é aproximar as crianças do mundo natural. Outra turma da Creche Maria Nair está participando novamente do projeto nacional, agora na edição da primavera. São pequenos de três anos, da professora Cristiane Duarte.
Para Sara Duarte, a ideia é que as crianças possam, nos espaços de educação infantil, ter experiências reais, alimentar suas memórias afetivas em lugares cheios de árvores, pequenos animais, flores, folhas de todo tipo e frutos. “Que possam vislumbrar o espetáculo da natureza, acompanhando as transformações no decorrer das estações do ano”.
Conforme a professora, a Creche Maria Nair é um espaço especial, cercada de muito verde e com várias possibilidades de observação e exploração por parte das crianças e adultos. Ela conta que não são raras as vezes que as crianças sobem em árvores, espiam por trás do muro, ou mesmo observam pelo visor de vidro especialmente posicionado para este fim, na altura das crianças. As árvores e o canto dos passarinhos são atrativos diários na unidade, assim como os saguis.
O Caixas da Natureza se aproximou de outro projeto que está em andamento no grupo: “A Infância sob o olhar de Portinari”. O projeto tem como objetivo proporcionar experiências artísticas através da trajetória de vida de Cândido Portinari (1903-1962), favorecendo assim o conhecimento dos elementos de brincadeiras presentes em suas obras (a maioria, elementos da natureza), e relacionar com o cotidiano das crianças de hoje. Uma das experiências vividas pelo grupo foi juntar gravetos no parque e desenhar com eles, assim como o menino Cândido Portinari tornou-se um dos pintores brasileiros com maior projeção internacional.
Pé de café e lagarta
Todo mundo se engajou neste projeto. A criançada estava lendo um livro sobre a infância do artista plástico, que morava em uma região de São Paulo repleta de cafezais, quando a pequena Maria Fernanda, de quatro anos, lembrou na hora do pé de café que tem na casa de seu avô. A menina trouxe um galhinho para mostrar para o grupo, que não conhecia o fruto. Ela explicou todo o processo de secagem da semente, e como ela é torrada e moída para o consumo.
Suzana Pauli também fez questão de participar. A professora trouxe uma lagarta que encontrou na horta e veio explicar para a turma o processo de transformação pelo qual a larva passa até virar uma borboleta.
Fotos e textos
A expectativa pelo envio dos “achados” era enorme. Foi selecionado o que dava para enviar, uma vez que os insetos mortos não puderam seguir para São Paulo por normas dos Correios. Na caixa da natureza do G5, havia uma carta, elaborada com o auxílio das crianças, fotos e textos explicativos para cada material e experiência.
A professora Sara relata que todos queriam "contar" para os colegas do outro Estado em que lugar da creche tinha sido achado cada material. Foi aí que surgiu a ideia de criar um mapa, visto que a professora Camila Oliveira da Silva estava trabalhando, também com este grupo, a representação do espaço através da iniciação cartográfica.
A professora Sara relembra: “Fizemos a cópia da planta baixa da creche, e ‘completamos’ com o desenho do espaço externo que temos aqui, marcando com numerais os locais que queríamos destacar: a amoreira, o jerivá, o margaridão, o bougainville, entre outros”.
De São Paulo, a turma recebeu três caixas da natureza da Escola Teia Multicultural. “Foi muito legal ver materiais diferentes e outra forma de registro”, conta a professora Sara. “O registro deles descrevia a reação e a interação de cada criança do grupo com os elementos coletados, entre eles, pedaços de tijolo, tocos, sabugos de milho e pedras”.
Memória
A professora, ao falar dos ganhos das crianças com este projeto, ressalta os momentos oportunizados, as interações e conexões com a natureza que rodeia a creche, a ampliação de possibilidades de brincadeira, bem como da percepção de que outros adultos (além das professoras) são também fonte de novos conhecimentos. Ressalta que o autor Richard Louv, em seu livro “A Última Criança na Natureza” apresenta uma abrangente síntese de pesquisas que relacionam a presença da natureza na vida das crianças com seu bem-estar físico, emocional, social e acadêmico.
Nesta publicação, Richard relata que, quando menino, podia passar da porta dos fundos da casa de seus pais diretamente para uma plantação de milho e, de lá, para um bosque. O especialista estadunidense em infância e reconexão com a natureza declarou que a consequência desta relação é que hoje: “...Tenho lugares para ir em meu coração, a plantação de milho e o bosque.”
De Cândido Portinari, que tão bem retratou as paisagens e brincadeiras de sua infância em Brodosqui, a professora lembra a frase: “A paisagem onde a gente brincou pela primeira vez não sai mais da gente”. Portinari, se hoje estivesse entre nós, iria aplaudir o projeto "Caixas da Natureza", diz orgulhosa Sara.
› FONTE: Assessoria de Comunicação da PMF