Há exatamente uma semana, também chovia no Centro de Florianópolis. Enquanto muitos se protegiam do temporal indo para casa, um grupo de músicos e organizadores de eventos culturais se preparavam desde cedo no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC). Era a noite do Concerto do Concurso de Composições do Festival de Música Contemporânea Edino Krieger.
Há 75 anos, Edino Krieger pisou no palco do TAC para tocar em um evento beneficente. Após a apresentação, já no camarim, o rapaz de 14 anos recebeu a visita do então governador de Santa Catarina, Nereu Ramos, que lhe ofereceu uma bolsa para estudar música no Rio de Janeiro. Foi o início de sua carreira fora das fronteiras catarinenses e de seu reconhecimento artístico nacional e internacional.
Perto das oito horas da noite e aos 89 anos, Edino Krieger entrou novamente naquele teatro, desta vez, para ouvir as peças de jovens compositores.
O Festival MCB recebeu 89 obras de autores de 13 estados do Brasil. A avaliação foi realizada por seis doutores em música e sete composições foram selecionadas. A interpretação foi feita por oito músicos que tocaram piano, violino, viola e violoncelo em formações distintas – solo, duetos e quartetos.
As apresentações foram acompanhadas pelos olhares e ouvidos sensíveis da plateia. Confira o programa:
Quinteto para piano (2017) - Tales Botechia (São Paulo)
Five burglar pieces (2012) - Martin Herraiz (São Paulo)
Quarteto de Quarenta e Quatro Quilálteras - Gabriel Mesquita (Rio de Janeiro)
Funes (2014) - Thiago Diniz (Minas Gerais)
Uso,desuso (2017) - Gabriel Xavier (São Paulo)
Caminho Anacoluto I (2014) – Marcílio Onofre
Moriña (2016) - Eduardo Frigatti (Paraná)
As obras foram interpretadas por: Guilherme Sauerbronn, Ricardo Muller, Fábio Presgrave, Thais Nicolau e pelos integrantes do Quarteto Radamés Gnattali (foto abaixo) – Carla Rincón, Andréia Carizzi, Marcos Catto, e Hugo Pilger.
Em entrevista, Edino falou sobre sua forma de composição, “Para mim, trabalho de criação dependia de duas coisas: tempo e ideias. Quando eu tinha tempo, eu conseguia uma ideia para dar início ao trabalho, eu sentava e tinha uma verdadeira preocupação em não interromper. Uma vez começado um trabalho de criação, eu queria chegar o mais rápido possível ao final, sem angústias, mas uma aflição que dá quando se começa um trabalho de criação e quer ver esse trabalho terminado antes que as ideias fujam".
Aos compositores que estão começando suas trajetórias profissionais, Edino aconselhou que eles trabalhem muito, ouçam muito e procurem encontrar o próprio caminho. “Muitos compositores jovens começam assim, fazendo uma música que é uma espécie de um clichê de coisas que eles ouviram e que aprenderam na sua formação. Mas o importante é que eles não se limitem a isso e procurem os seus próprios caminhos, as suas próprias ideias. Isso é o que faz um compositor sobreviver ao período de formação.”.
Sobre o evento
De 26 a 30 de setembro, o Festival MCB buscou seu espaço para homenagear e imortalizar o nome de Edino Krieger e promover a criação musical de compositores jovens. Eventos foram realizados em Brusque, teatros da Capital e na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). O Festival MCB é um projeto aprovado na Lei Municipal de Incentivo à Cultura e pretende entrar para a agenda cultural do estado por meio de sua realização anual.
Sobre Edino Krieger
Nascido na cidade de Brusque (SC), em 1928, Edino Krieger começou sua instrução em violino aos 7 anos. Pouco tempo depois, conquistou uma bolsa de estudos para o Conservatório Brasileiro de Música e estudou por um ano na renomada escola de música Juilliard School of Music de Nova Iorque. É um dos principais nomes da criação musical brasileira. Seu catálogo inclui cerca de 150 obras para orquestra sinfônica e de câmara, oratório, música de câmara, obras para coro e para vozes e instrumentos solistas, além de partituras incidentais para teatro e cinema.
As composições de Edino têm sido executadas com frequência no Brasil e no exterior. Recebeu, entre outros, o Prêmio Música Viva, o Prêmio Internacional da Paz, o primeiro lugar no Concurso Nacional de Composição do Ministério da Educação, foi agraciado com a Medalha de Honra do Cinquentenário do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a Medalha Anita Garibaldi de Santa Catarina.
Foi construindo, aos poucos, sua reputação de compositor com música de câmara e sinfônica, peças para teatro e cinema. Estudou composição com Lennox Berkeley e trabalhou com terapia musical no Hospital do Engenho de Dentro. Foi presidente da Academia Brasileira de Música e um dos compositores homenageados do Festival de Música Contemporânea Brasileira (II FCMB).
› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br) - Samantha Sant'Ana