A Usina Hidrelétrica da Serra da Mesa, no estado de Goiás, é palco de um dos primeiros casos do mundo de evolução rápida em função de ação humana. Pesquisadores descobriram que a lagartixa Gymnodactylus amarali se adaptou em apenas 15 anos, mudando suas características para conseguir sobreviver em um habitat que foi modificado.
O réptil desenvolveu uma cabeça maior para poder comer alimentos maiores e assim garantir sua sobrevivência na região inundada. A pesquisa foi iniciada com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e foi publicada em agosto na PNAS, a revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos.
De acordo com o biólogo Reuber Brandão, membro da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza e professor da Universidade de Brasília, a lagartixa ilustra o impacto que o homem causa na natureza e como as espécies estão lidando com essas transformações. O lago criado pela usina hidrelétrica deu origem a diversas ilhas que isolaram as espécies nativas da região. “Nossa pesquisa apurou que muitas espécies foram extintas com a mudança no habitat, seja por isolamento de populações ou por falta de alimento disponíveis. A lagartixa que estudamos conseguiu sobreviver ampliando sua dieta pela ingestão de cupins maiores, que antes eram alimentos de outras espécies”, explica. A mudança ocorreu de forma semelhante em diversas ilhas da região e não nos indivíduos que ficaram nas margens do lago.
A alteração na região da Serra da Mesa, além de gerar a evolução rápida na lagartixa Gymnodactylus amarali, resultou na extinção de várias espécies. Já se sabe que metade das espécies de sapos (19) foram extintas em apenas três anos e metade das espécies de lagartixas, cerca de 8, deixaram de existir em 15 anos na região.
Combate à extinção
A pesquisa que identificou o caso da lagartixa servirá também para entender a dinâmica de extinções em eventos de fragmentação de habitat, visando prevenir a extinção de outras espécies, de acordo com Reuber Brandão. “O lago da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa está sendo um grande laboratório. O objetivo é criar um modelo que consiga ajudar no manejo de unidades de conservação e assim preservar a biodiversidade”, analisa. Reuber também explica que, com as informações do habitat e a história evolutiva das espécies, será possível conseguir prever quais são as mais suscetíveis a sofrer extinção e quais os cuidados preventivos que devem ser tomados.
Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira.
› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)