Nos primeiros meses de 2017 já foram registrados a metade dos casos de autoagressão ocorridos no ano anterior, na Capital
A Secretaria de Saúde de Florianópolis acendeu o sinal de alerta para o renovado interesse sobre o tema do suicídio, especialmente relacionado a adolescentes, tanto na imprensa quanto nas redes sociais. Parte desse interesse reflete a súbita notoriedade da série 13 Reasons Why (livremente traduzido para 13 Razões Porquê), que aborda o suicídio de uma jovem e, ainda, o “jogo” Baleia Azul, veiculado por meio de redes sociais, que elenca, em forma de gincana, 50 desafios que incluem automutilação, ingestão de medicamentos e, mesmo, comportamento suicida.
Tal comoção traz à luz uma inconveniente realidade: independentemente da série e do jogo citados, vem ocorrendo significativo aumento dos índices de suicídio na infância e adolescência em todo o mundo, conforme alerta da Organização Mundial de Saúde. Em Florianópolis, segundo dados da Vigilância Epidemiológica do município, desde 2016 foram registrados 46 casos de autoagressão entre pessoas de 12 a 19 anos de idade – na maioria cortes ou tentativas de suicídio com o uso de medicamentos.
Em 2017, foram registrados 15 casos, sendo 12 meninas e 3 meninos, na mesma faixa etária. “Já tivemos, nestes primeiros meses, metade dos casos de autoagressão que tivemos no ano passado”, alerta Ana Cristina Vidor, médica da Vigilância Epidemiológica.
De 2006 a 2016, o suicídio foi a sexta principal causa de morte entre pessoas de 20 a 49 anos de idade (atrás de acidentes de trânsito, homicídios, Aids, doenças do coração e câncer de mama). Nesse período, foram registrados 340 casos de suicídio, sendo 72 mulheres e 268 homens. Das meninas entre 10 e 29 anos de idade, 20 tiraram a própria vida. O número é maior entre os homens – foram 77 casos registrados na mesma faixa etária, em dez anos.
Segundo Marcelo Brandt Fialho, do Departamento de Atenção Psicossocial, o suicídio é um fenômeno complexo e multideterminado e, nesse sentido, a informação é uma importante ferramenta de prevenção. “Por outro lado, é preciso ter cuidado com a maneira como tema é divulgado, a fim de que se produzam efeitos protetivos, e não de estímulo aos mais vulneráveis”, afirma.
O que evitar
Algumas posturas e cuidados são essenciais e podem ajudar, como evitar o sensacionalismo e o compartilhamento de imagens e vídeos mostrando atos de autoagressão, conversar abertamente sobre o tema com alguém que está mais triste, isolado, ou que perdeu o interesse em suas atividades habituais e divulgar serviços de apoio e campanhas de prevenção.
“A infância e adolescência são períodos de maior susceptibilidade diante das informações inadequadas sobre o tema. Assim como o são para o sofrimento, dadas as transições da idade e a imaturidade da segurança pessoal. É um período que requer muita atenção, paciência, amor e proximidade dos pais e familiares”, diz Daymee Cordova, também do Departamento de Atenção Psicossocial.
Os adultos precisam ter momentos de conversa e orientações com as crianças e jovens, evitando posturas duras, com juízos de valor, críticas ou culpabilização acerca dos sentimentos e atitudes relatadas. “Precisam ensinar que há maneiras mais saudáveis dos menores lidarem com os conflitos pertinentes a estas idades, que pedir ajuda não é errado e nem sinal de fraqueza”, esclarece Daymee. Devem estar sempre disponíveis para dar suporte diante dos problemas.
Segundo ela, é fundamental que os mais velhos programem mais momentos de lazer, de contato e afeto com as crianças e adolescentes, retirando-os do isolamento virtual. E, além disso, que estejam próximos da escola, da rede de amigos dos filhos e dos conteúdos acessados eletronicamente, estabelecendo limites e horários para o uso da tecnologia e internet.
Falar abertamente sobre suicídio da forma correta e adequada pode prevenir. Pessoas que relatam o desejo podem, de fato, consumir o ato e devem ser ouvidas em qualquer espaço institucional, ainda que para encaminhamento responsável aos serviços de saúde. “O acolhimento, o carinho, a escuta e o suporte são ferramentas indispensáveis nessa prevenção”, diz.
Onde procurar ajuda?
Equipes de Saúde da Família - A prevenção do suicídio é responsabilidade que precisa ser compartilhada entre diversos setores da sociedade, desde a família aos serviços de saúde, passando pelas escolas e serviços de assistência social. No setor da Saúde, pode-se buscar ajuda, sempre que necessário, junto aos 49 Centros de Saúde distribuídos nos bairros de Florianópolis.
CAPS - A Capital conta com Centros de Atenção Psicossocial para álcool e drogas na Ilha e no Continente, Centro de Atenção Psicossocial para transtornos mentais na Ponta do Coral e Centro de Atenção Psicossocial para crianças e adolescentes, ambos no bairro Agronômica.
Urgência e emergência - Unidades de Pronto Atendimento (UPA) no Norte e Sul da Ilha. Samu (192) e Bombeiros (193).
Para desabafar - O Centro de Valorização da Vida (CVV), que estabeleceu recente parceria com o Ministério da Saúde, conta com apoio emocional e de prevenção ao suicídio durante vinte quatro horas por dia. Pode ser acessado pelo telefone (141) ou site (http://www.cvv.org.br/).
Quais os sinais de alerta?
Mudanças de comportamento e dos hábitos de alimentação e de sono
Perda recente de membros familiares
Exposição à violência doméstica
Problemas na escola
Comportamentos agressivos ou de autolesão
Medos excessivos
Dificuldades de relacionamento ou na interação social
› FONTE: Secretaria Municipal de Saúde