A oposição considerou a tentativa do presidente Michel Temer de se descolar do episódio de seu amigo Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, como uma confirmação de seu envolvimento no caso.
Para o líder da Rede na Câmara, Alessandro Molon (RJ), a interferência de Temer em favor de Geddel ficou clara quando o presidente afirmou ter conversado com Calero na tentativa de "solucionar um conflito entre órgãos".
A chegada da crise ao gabinete de Temer, com a divulgação do depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal, desencadeou reação automática na oposição.
Nesta segunda-feira (28) serão protocolados pelo menos dois pedidos de impeachment contra o presidente.
Um dos pedidos será do PSOL. Para o líder do partido na Câmara, Ivan Valente (SP), o episódio mostrou que houve crime de responsabilidade por descumprimento à lei de improbidade.
"Temer constrangeu e ameaçou um funcionário subordinado, o que prova que estava arbitrando em favor de Geddel", disse Valente.
O outro pedido deve ser assinado por movimentos sociais, mas está sendo organizado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Ele se baseia na prática da advocacia administrativa e um possível tráfico de influência.
Para a advogada Janaína Pascoal, uma das autoras do pedido de impeachment que culminou no afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, o momento é diferente e os pedidos de afastamento de Temer são "imaturos".
"Nenhuma das argumentações podem ser comprovadas com base no que se sabe até o momento," afirmou.
Gravações
Parlamentares da oposição começam a questionar o conteúdo das gravações do ex-ministro Calero. Para eles, esse material –que ainda não veio a público– pode dar força aos pedidos de impeachment que serão protocolados.
Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), pode até haver um questionamento sobre a lealdade do ministro, "mas a gravação não é ilegal".
"O mais importante é saber o conteúdo dessa gravação. Não é algo usualmente feito, mas não devemos diminuir a gravidade do que Temer fez [possível pressão sobre Calero]", afirmou o petista.
Apoio
Governistas consideram "absurda" a forma como Calero lidou com a situação.
"Todos nós lidamos com pressão todos os dias. Recebemos um milhão de pedidos de todos os tipos. Se não sabemos como nos portar, de fato não estamos prontos para o cargo", afirmou um ministro de Temer em condição de anonimato.
Presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José Carlos Araújo (PR-BA) diz que "a mínima hipótese de gravar uma conversa com um presidente da República é absurda". Ele defende que Calero seja enquadrado na Lei de Segurança Nacional por caluniar ou difamar o presidente da República.
› FONTE: Folha de SP