A deterioração no mercado de trabalho ocasionada pelo momento de crise econômica do país parece não atingir os mais ricos, que apresentam ganhos acima da inflação. Por outro lado, os mais pobres são os mais prejudicados. A queda na renda média mensal dos trabalhadores que recebem menos de um salário mínimo por mês alcançou 9% no trimestre encerrado em junho, em relação a um ano antes. Os dados são de levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"É um grupo que não tem proteção de sindicato, de lei, de nada. Ele não ganha nem o salário mínimo, está à margem da lei trabalhista. Como a crise se espalhou de forma muito forte, são os maiores prejudicados. Eles estão em posição de vulnerabilidade mesmo", explicou José Ronaldo de Souza Júnior, coordenador do Grupo de Estudos de Conjuntura na Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.
Ao mesmo tempo, na faixa de renda mais alta, os 10% que recebem os maiores salários tiveram um aumento real de 2,38% no período, de acordo com o estudo, que tem como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Recuo geral e desemprego
Segundo a pesquisa, a renda média de todos os trabalhadores ocupados recuou 4,2% no segundo trimestre do ano, em relação ao mesmo período do ano anterior. A queda no rendimento da população impulsionou um aumento na taxa de desemprego como um todo no País. "A renda familiar cai, e mais pessoas da família procuram emprego para compor a renda domiciliar", disse Souza Júnior.
A maior variação na taxa de desemprego ocorreu entre a população idosa, pessoas com mais de 59 anos. Nessa faixa etária, o aumento foi de 132% entre o último trimestre de 2014 - último período antes da piora no mercado de trabalho - e o segundo trimestre deste ano.
O estudo mostra ainda que a alta na taxa de desemprego também foi maior em 2016 entre os idosos: a taxa de desocupação entre a população com mais de 59 anos passou de 3,29% no primeiro trimestre para 4,75% no segundo trimestre, um avanço de 44%.
"Esse foi o único grupo de idade em que não houve redução na ocupação. Pelo contrário, até aumentou a população ocupada. Mas aumentou o total de pessoas em busca de uma vaga. Eles estão procurando emprego para compor a renda da família, embora também haja influência de um fator demográfico", justificou o pesquisador do Ipea.
› FONTE: Agência CNM com informações da Agência Estado