O uso exacerbado de aparelhos tecnológicos pode causar dependência tanto quanto de entorpecentes químicos
Falar de psiquiatria na sociedade digital é voltar-se aos nossos próprios hábitos cotidianos. Não é de hoje que comentamos que ao invés de utilizarmos as máquinas e as tecnologias ao nosso favor, acabamos por competir come elas, consequentemente, essas ações interferem em nossa saúde física e mental. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman vem nos alertando sobre as características de um mundo pós-moderno, em que as relações (pessoais e sociais) são cada vez mais efêmeras e fluídas. Ficamos reféns do imediatismo dos fatos e da superficialidade do “ser humano”.
O hábito de permanecer online o dia inteiro tem levado muitas pessoas a adotar condutas inadequadas, na tentativa de aproveitar a cada instante para resolver múltiplas questões ao mesmo tempo. Não é raro acabarmos por cometer ações como: aproveitar o sinal vermelho para checar mensagens, enviar e-mails, o mesmo fazer ligações, etc.
O médico psiquiatra André Brasil Ribeiro, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, alerta sobre esse fenômeno corriqueiro: “Podemos considerar como algo atrelado às necessidades do imediatismo que toma conta da sociedade digital. Não podemos mais ficar dissociados da tecnologia, mesmo após períodos curtos de tempo. Daí observar que qualquer intervalo mínimo, mesmo que seja o tempo de um semáforo, é aproveitado para checar mensagens e responde-las. E, o que é mais grave, muitas respondem e leem as mensagens enquanto dirigem. Tal comportamento desvia gravemente a atenção, sendo hoje uma das grandes causadoras de acidentes automobilísticos. É um hábito perigoso e não saudável.”. Além disso, acaba por colocar em risco a vida do próprio motorista, e de outras pessoas.
Esse uso exacerbado de tecnologia, como é o caso dos aparelhos celulares, pode ser caracterizado como uma dependência de tecnologia. Vale destacar que não é o fato de estarmos impermeados de tecnologia que nos faz um dependente, mas sim, a forma como lidamos com os equipamentos tecnológicos que determina se estamos com um comportamento patológico ou não, assim como fala o psiquiatra André Brasil Ribeiro: “A dependência às tecnologias pode ser considerada quando a pessoa supera o tempo determinado para realizar tarefas, lazer ou comunicação. É impossível nos dias atuais viver sem tecnologias, mas seu abuso acarreta prejuízos na capacidade de socialização, aumento de elementos ansiosos e podendo até causar quadros depressivos e sintomas idênticos às dependências químicas, como da cocaína e álcool.”.
Por isso, vale à pena ficar atento se a forma como você, ou pessoas próximas, utiliza os equipamentos tecnológicos. Em caso de um uso excessivo, em que esse constante contato com o universo digital esteja prejudicando sua rotina, a dica é procurar a ajuda de um profissional e não deixar que a tecnologia domine sua rotina, assim como reforça o residente da Associação Catarinense de Psiquiatria, o médico psiquiatra Eduardo Mylius Pimentel: “Muitas vezes, as pessoas deixam de procurar ajuda de um profissional por medo de sofrer preconceito ou por desconhecimento de que um psiquiatra pode ajudá-las. Se a pessoa sente que o uso de tecnologia fugiu do seu controle, buscar a ajuda profissional vai fazer com que ela não se sinta desamparada e que inicie um tratamento, voltando a ter uma vida normal.”.
› FONTE: Apoio Comunicação