O ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), José Eduardo Cardozo, fez nesta segunda-feira (11) a última defesa pública antes da votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, e disse que "a história não perdoa as violências contra as democracias"
Em seu pronunciamento diante da comissão especial formada por deputados federais, Cardozo reforçou os argumentos apresentados na sexta-feira em favor de Dilma. Segundo o ministro da AGU, não há crime de responsabilidade que justifique o impedimento da presidente e ainda chamou a situação atual de "golpe de abril de 2016".
"O impeachment, como Vossa Excelência [relator] disse, não é um processo político. Tem que estar de acordo com a lei", discursou Cardozo, referindo-se ao relator do processo de impeachment, deputado Jovair Arantes (PTB-GO). "Aquilo que não foi indeferido não pode interferir no processo de impeachment", completou.
O discurso de Cardozo, entretanto, chegou a ser interrompido em três ocasiões. Na primeira deles, o advogado cobrou da Câmara dos Deputados o mesmo rigor no processo de cassação do mandato do presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"Por que o que vale para cassar o mandato do parlamentar não vale para cassar o mandato da presidente da República?", questionou, recebendo aplausos de aliados de Dilma. "Há um dispositivo na Constituição que diz que todos são iguais perante a lei. Eu não peço privilégio, peço igualdade", completou.
POR QUE O QUE VALE PARA CUNHA NÃO VALE PARA DILMA?, QUESTIONA CARDOZO NA COMISSÃO
Nas duas últimas interrupções, os deputados iniciaram uma discussão, obrigando a intervenção do presidente da comissão especial de impeachment, Rogério Rosso (PSD-DF). Um dos mais exaltados era o deputado Henrique Fontana (PT-RS), que gritava que alguns deputados "sabem que é golpe e não querem permitir a defesa [de Dilma]".
"É natural o debate acalorado, mas não é natural o desrespeito à palavra do advogado", disse Rosso.
No fim de seu discurso, Cardozo afirmou que o relatório apresentado por Jovair Arantes deveria absolver a presidente Dilma Rousseff, uma vez que os principais argumentos do documento – má-fé nas manobras fiscais e debate público a respeito da questão – não teriam consistência.
"Não há o mínimo de prova. Este relatório, portanto, para a história, é a demonstração de que não há crime de responsabilidade", afirmou. "Este relatório é uma peça de absolvição histórica da presidente. Ele demonstra que não há dolo, não há crime. Mostra que há apenas a vontade política", argumentou.
O representante da AGU afirmou ainda que o processo de impeachment não deveria ter sido aberto sem a certeza de crime de responsabilidade. Segundo ele, o impeachment em votação "não é um processo de investigação", mas de condenação de Dilma.
"Na dúvida, não se abre um processo que afasta uma presidente de república", defendeu. "O que se quer é o impeachment. Pouco importa se eu rasgo a Constituição ou se eu violento a democracia", acrescentou.
No encerramento, Cardozo alertou para o cenário posterior a uma virtual votação favorável ao processo. "A história não perdoa as violências contra as democracias", afirmou.
"HISTÓRIA NÃO PERDOA VIOLÊNCIA CONTRA DEMOCRACIAS", DIZ CARDOZO
Governo é "arrogante e autoritário"
Relator do parecer da comissão que analisa o impeachment de Dilma Rousseff, Jovair Arantes abriu a sessão da comissão afirmando que o governo é "arrogante e autoritário" e "não aceita opiniões divergentes". A comissão deve votar ainda nesta terça-feira o parecer do deputado.
"Não há mais clima para esse governo", discursou Jovair. "A população precisa de uma resposta positiva de nós parlamentares", acrescentou.
Segundo o deputado, o parecer está de acordo com a Constituição. "Registro com orgulho que o meu parecer foi elogiado pelos editoriais dos principais jornais do país, por economistas, por especialistas e juristas", disse Arantes. "Não li uma única crítica contra o meu parecer."
Dia quente
As discussões no pronunciamento de José Eduardo Cardozo não foram as primeiras do dia na Câmara dos Deputados. Horas antes, houve bate-boca também envolvendo os deputados Carlos Marun (PMDB-MS) e Vitor Valim (PMDB-CE), que votam a favor do impeachment, e Orlando Silva (PC do B-SP) e Hildo Rocha (PMDB-MA), que votam com o governo.
No momento, Rocha - que chegou às 9h21 - anunciou que registraria presença no painel e reclamou que não havia combinação para lista de ordem de chegada antes da abertura do sistema. Valim rebateu, afirmando ser o terceiro da fila, já que chegara às 7h30. Orlando Silva entrou na discussão em defesa de Rocha.
"Vocês são &39;furão&39; (sic) de fila. Comunista que é golpista", gritou Marun. "Sou comunista graças a Deus", rebateu Orlando Silva.
› FONTE: UOL - SP