Preso na madrugada de ontem (28) no Aeroporto de Guarulhos (SP), Ademir Auada, responsável pela offshore Murray Holdings na empresa panamenha Mossack Fonseca, já está fazendo exames no Instituto Médico-Legal (IML) e vai prestar depoimento hoje (29) à tarde. Auada, que estava no exterior, é um dos investigados na 22ª fase da Lava Jato, deflagrada há dois dias e batizada de Triplo X.
Na ação, foram expedidos seis mandados de prisão temporária por cinco dias, que podem ser prorrogados se a Justiça considerar necessário. Além de Auada, a Polícia Federal (PF) vai ouvir Ricardo Honório Neto, um dos sócios do escritório da Mossack no Brasil, e agora de manhã está previsto o depoimento da publicitária Nelci Warken, que prestou serviços à Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) e é apontada como responsável por um triplex no Condomínio Solaris, no Guarujá (SP), alvo da operação.
Renata Pereira Brito, que trabalhava com Honório, depôs ontem (28) na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Segundo assessores da PF, Maria Mercedes e Luis Hernandez Rivero, citados nas investigações como administradores de fato da Mossack no Brasil, continuam foragidos, mas os mandados de prisão temporária continuam válidos.
Nesta fase, investigadores querem saber se unidades do Condomínio Solaris, no Guarujá, litoral paulista, foram usadas para repasse de propina. O empreendimento, inicialmente construído pela Bancoop, presidida entre 2005 e 2010 pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso em abril do ano passado, foi repassado à empreiteira OAS em 2009, em decorrência de uma crise financeira da cooperativa. As suspeitas são de que a empreiteira reservou alguns apartamentos triplex para quitar negociações ilegais. A Mossack está sendo investigada pela PF pela suspeita de auxiliar a abertura de empresas e contas no exterior a fim de esconder dinheiro de propina, fruto de atividades irregulares envolvendo a Petrobras.
Em resposta à Agência Brasil, a Mossack afirma que a empresa está sendo envolvida “erroneamente em temas nos quais não tem nenhuma ingerência”.
Carlos Sousa, diretor de Relações Públicas da empresa, cita o escritório do Brasil como franquia e afirma que a Mossack não foi procurada por autoridades locais ou de outros países. Segundo ele, a aquisição da companhia foi a pedido de um cliente intermediário, que já teria uma carteira de clientes. “Temos um departamento que realiza programas abrangentes de diligência para verificar a legitimidade de cada um dos nossos clientes. Quando recebemos a solicitação, a diligência não encontrou resultados adverso ou qualquer ligação com pessoas politicamente expostas”, explicou.
Na nota, ele reforça que a empresa não participa de aquisição, locação ou consultoria imobiliária em qualquer parte do mundo e não tem qualquer relação com os nomes envolvidos na operação. “Não patrocinamos ou facilitamos a violação da legislação em vigor em nenhum país”, completou. O escritório no Brasil foi procurado, mas não se manifestou.
A Bancoop disse que a transferência para a construtora OAS do condomínio, que na época se chamava Mar Cantábrico, foi decidida em assembleia com os cooperados. “Assim, desde 2009 a Bancoop não tem qualquer relação com o empreendimento Mar Cantábrico, que, inclusive teve sua denominação alterada para Solaris”, acrescentou.
A OAS não vai se pronunciar sobre a investigação. A defesa da empreiteira disse que os documentos estavam à disposição da Polícia Federal, que poderia ter solicitado essas informações.
› FONTE: Agência Brasil