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Família de ciclista atropelada na SC-401, em Florianópolis, pede justiça

Publicado em 26/01/2016 Editoria: Segurança Comente!


Bicicleta elétrica recém adquirida ficou totalmente destruída. Foto: Charles Guerra / Agência RBS

Bicicleta elétrica recém adquirida ficou totalmente destruída. Foto: Charles Guerra / Agência RBS

Mãe de Simoni Bridi conta que a filha voltava do trabalho quando foi atropelada

Com o coração apertado, Arlete Bridi, 50 anos, acordou o filho para sair de casa depois da 1h da madrugada de domingo, dia 24, para procurar a filha Simoni Bridi, 28. Fazia cerca de 40 minutos que Simone telefonara para a mãe, avisando que estava saindo do trabalho, no bairro da Cachoeira do Bom Jesus, no norte da Ilha, para voltar pra casa. Um trajeto que percorria, diariamente, de bicicleta elétrica em cerca de 15 minutos.

A jovem cozinheira do restaurante Antônio´s havia cumprido dupla jornada no sábado para conseguir uma renda extra no verão e garantir o sustento de seus dois filhos, a pequena Kauana, 2 anos, e Kauê, de 10. Ao finalizar o expediente, se despediu dos colegas com quem trabalhava havia seis anos com beijos, abraços e um até amanhã.

A ideia de comprar bicicletas elétricas surgiu de uma conversa que teve com uma irmã e a cunhada, que trabalham no mesmo restaurante, para não precisarem mais esperar horas pelo ônibus no fim do expediente. A cozinheira saía por volta da 1h do trabalho, e antes de ter a bicicleta, precisava esperar até as 2h para pegar o próximo coletivo. Na garupa, Simoni sempre levava a irmã Silvana Bridi, grávida de seis meses. A outra irmã ia com a cunhada. Não teve tempo para comprar o capacete.

Como a filha não chegou no horário de costume e o celular só dava ocupado, Arlete subiu e chamou o filho e o genro. Os três saíram de carro e percorreram todo o trajeto de costume, pensando que a bicicleta poderia ter estragado novamente, mas não encontraram nada, até que resolveram parar na UPA Norte. Assim que o filho entrou, a família recebeu a notícia: Simoni havia sido atropelada na rodovia SC-401 e já estava sem vida:

— Quando eu entrei lá eu já senti e comecei a chorar. Eu não consigo acreditar que isso aconteceu com minha filha. Uma menina trabalhadora, esforçada, estava sempre alegre, tinha um jeito de menina. Fazia tudo pelos filhos. Quem fez isso tirou a vida de uma inocente e nem parou para ajudar — disse, em meio às lágrimas.

Dias antes, a bicicleta elétrica adquirida há um mês e oitos dias havia estragado. O marido ficou encarregado de providenciar o conserto e, por volta das 18h de sábado, deixou o veículo no local de trabalho da esposa para que ela pudesse voltar para casa com tranquilidade.

Depois que desligou o telefone com a filha, Arlete contou o tempo e desceu para esperá-la no pé do Morro do Mosquito e acompanhá-la na subida íngreme até a casa simples de madeira da família, onde não chegam carros e muito menos transporte coletivo.

Foi com dor no coração que a avó e as tias contaram para Kauê e Kauana que a mãe não iria mais voltar para a casa. A família é natural de Pouso Redondo, na região do Alto Vale do Itajaí, mas se mudaram para a Capital em busca de uma vida melhor quando Simoni tinha oito anos . O corpo foi sepultado no cemitério de Canajurê, na manhã desta segunda, em uma cerimônia marcada pela emoção de familiares a amigos. Além dos filhos, ela deixa marido, mãe, um irmão gêmeo e outros quatro irmãos. Dona Arlete teve três pares de gêmeos.

Família quer justiça

As circunstâncias do acidente que matou Simoni estão pouco claras para a família. A jovem entrou para a estatística, exatamente quatro semanas depois da morte do jornalista Róger Bitencourt, 49 anos, também atropelado por um motorista enquanto pedalava em uma manhã de domingo na SC-401. Somente nesta rodovia, são quatro bicicletas-fantasmas representando a morte de ciclistas. No caso de Simoni, não existem testemunhas.

A Polícia Militar Rodoviária, que atende as ocorrências na SC-401, afirma não ter recebido nenhuma ocorrência de atropelamento na madrugada de domingo e não possui registro do acidente. A placa que registra o número de dias sem mortes na rodovia permanece com o número referente à morte do outro ciclista.

— Ficamos sabendo pela imprensa. Como foi perto dos Bombeiros e da UPA, eles levaram direto e não nos comunicaram _— disse um dos oficiais.

O assunto só ganhou repercussão após uma postagem de um vizinho da família nas redes sociais.

Ciclistas protestam por mais segurança no trânsito na SC-401

A investigação da ocorrência está com o delegado Alexandre Carvalho, da 8ª Delegacia de Polícia Civil, que informou que o inquérito já foi instaurado:

— Recebi hoje o boletim de ocorrência e já estamos fazendo diligências preliminares para apurar o mais rápido possível o autor. Estamos buscando testemunhas, pedi perícia no local para buscar vestígios e também já solicitei o laudo cadavérico. Temos algumas informações que não posso divulgar — disse Carvalho.

No posto de gasolina próximo ao acidente, câmeras apontam para o local do atropelamento, mas o gerente do posto, Jeferson Nunes, verificou que não é possível enxergar nada:

—_ Tava muito escuro, não se vê nada. Uma pena o que aconteceu com a moça, a gente sempre via ela passando de bicicleta aqui em frente — lamentou.

Em meio à dor, a mãe reafirma o desejo de justiça:

— Não quero dinheiro, nada vai trazer minha filha de volta. Só espero que quem fez isso pague, antes que faça o mesmo com outras pessoas — disse.

Pesquisa do perfil dos ciclistas aponta que maioria utiliza bicicleta para ir trabalhar

Com o aumento do número de ciclistas em todo o país, a ONG Transporte Ativo, em parceria com outras entidades, realizou em 2015 uma pesquisa nacional para traçar o perfil dos ciclistas brasileiros. O levantamento apontou que, assim como Simoni, a maior parte das pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte é pobre, com renda de até três salários mínimos, e usa a bicicleta principalmente como meio de transporte para trabalhar.

A pesquisa foi feita com 5 mil ciclistas em 10 cidades brasileiras: Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Niterói, Salvador e São Paulo. Apesar de Florianópolis ter ficado de fora da amostragem, quem conhece o norte da Ilha sabe o quanto a bicicleta é utilizada além do lazer na região.

Em tempos de comentários de redes sociais que afirmam que "quem pedala na SC-401 está colocando a própria vida em risco", vale ressaltar a necessidade de se criar uma ciclovia segura, ao invés de coibir o uso da bicicleta, seja para lazer ou trabalho.

› FONTE: Hora de Santa Catarina

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