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Continua a discussão sobre cenas de guerra vivenciadas ontem (26) na UFSC

Publicado em 26/03/2014 Editoria: Florianópolis Comente!


foto: Divulgação Facebook

foto: Divulgação Facebook

O campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi palco de cenas de guerra no início da tarde de ontem (25). O embate entre policiais e  estudantes universitários teve origem numa operação à paisana da Polícia Federal (PF) para investigar denúncias de consumo e tráfico de drogas dentro da UFSC. Ainda no final da tarde de ontem, os alunos ocuparam a reitoria em forma de protesto pelo acontecido.

O tumulto começou quando os policiais tentaram levar para dentro de um carro sem identificação, um dos universitários que havia sido pego com maconha suficiente para cinco cigarros. Em poucos minutos centenas de universitários cercavam os policiais, decididos a não deixar que eles levassem o estudante. A ação resultou em funcionários e alunos feridos por balas de borracha e bombas de efeito moral e em dois carros virados pelos estudantes, um da polícia e outro da segurança do campus.

No final da noite, a reitora Roselana Neckel e a vice-reitora Helena Martins publicaram no site da UFSC uma nota de repúdio à ação policial. Segundo a nota não houve aviso nem autorização de qualquer autoridade universitária para esta ação. Confira na íntegra aqui: http://http://noticias.ufsc.br/2014/03/nota-de-repudio/

O diretor do CFH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas) Paulo Pinheiro Machado, que aparece na foto acima sendo atingido com gás de pimenta no rosto, publicou no seu Facebook o relato do ocorrido, segundo ele os policiais chegaram à paisana sem nenhuma identificação, revistando mochilas de estudantes dentro da lanchonete do centro.  Confira:

 

Hoje, o que se vê pela UFSC são pessoas discutindo o que aconteceu. A ação da polícia e a ocupação da reitoria divide opiniões: “Sou a favor de policiais no campus. Se isso vai interferir no seu fumo só lamento. Prefiro a minha segurança” garantiu uma estudante de letras. Uma estudante de odontologia ironiza “ Por que não vão protestar pela volta da biblioteca e do restaurante universitário? Não, vamos protestar pelo direito de poder fumar dentro do campus!”

Um estudante de ciências sociais alega que o problema da ação policial foi o fato de a PF ter entrado à paisana no campus  e ter dado voz de prisão e tentado colocar o graduando dentro de um carro que não era uma viatura. “Isso foi uma violação de direitos! Para o que aconteceu há uma alternativa chamada termo circunstancial” comentou.

Ainda ontem, uma página no facebook de nome “Levante do Bosque” foi criada para explicar os motivos dos estudantes terem ocupado a reitoria e para chamar os estudantes para um assembleia que aconteceu às 11h dessa quarta-feira. Até às 16h dessa tarde, a página  já tinha 2.870 curtidas. Confira Posicionamento Oficial da Ocupação



“Na tarde do dia 25 de março de 2014, três estudantes e um membro da comunidade foram detidos por policiais federais à paisana no bosque do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) por portar uma pequena quantidade de maconha consigo. Perto dali, na lanchonete do CFH, outro estudante era abordado e sua mochila revistada por outro policial à paisana, recebendo também voz de prisão.

Um grupo de estudantes e a vice-diretora do centro questionaram a ação dos policiais, uma vez que vários princípios constitucionais e direitos humanos foram violados. Houve um princípio de confusão quando os policiais se mantiveram irredutíveis às tentativas de impedir a prisão arbitrária dos acadêmicos. Os estudantes propuseram que o acadêmico detido assinasse um termo circunstanciado ali mesmo e fosse liberado, procedimento recorrente nestes casos. Os policiais à paisana conduziram o aluno para um carro particular, mas a professora e o grupo de estudantes impediram a saída do veículo. Os policiais chamaram reforços da Polícia Federal e da Polícia Militar, aumentando assim o clima de tensão que já vinha crescendo. Durante algumas horas os mais de 300 estudantes, professores e técnicos impediram que a viatura saísse da universidade. O batalhão de Choque da PM mais a ação de diversos policiais federais fizeram valer as ordens dadas anteriormente. Os policiais iniciaram a violência com gás de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito moral sendo lançadas contra os manifestantes. Com muita força e truculência, cinco pessoas foram levadas para a delegacia, deixando a comunidade chocada e perplexa. Mas não inerte. Todos os cinco já estão soltos mediante a assinatura de termo circunstanciado e suas presenças conosco só aumentam nossa força.

O que nos deixa inquietos e em busca por respostas são alguns pontos importantes:

1 - A clara violação policial dos direitos humanos consolidados por acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, ao não se identificarem, não informarem para onde estavam levando os estudantes, algemá-los sem necessidade, utilizando-se de força desproporcional, claramente abusando do seu poder de polícia. 

2 – A falta de debate com toda a comunidade acadêmica e a sociedade a respeito da política de drogas, sendo a única ação visível sobre o assunto a constante vigilância e criminalização. 

3 - O custo exorbitante que esta operação teve para todos nós, contribuintes. Foram disponibilizados ao menos 20 policiais federais e uma quantidade ainda maior de policiais militares, mais o batalhão de Choque. Somam-se a isso duas viaturas que foram tombadas em repúdio pela ação dos policiais e toda a grande quantidade de munição empregada na ação repressora. 

4 – Os prejuízos de tal operação não são apenas financeiros. Dezenas de feridos, vários deles encaminhados ao Hospital Universitário, forte repressão aos olhos das crianças que saíam assustadas das duas creches da UFSC naquele momento. Tudo isto explicita a face autoritária e violenta do Estado que permanece, a poucos dias da data em que o golpe civil-militar de 1964 completa 50 anos.

Tudo isso para prender 5 pessoas e 3 cigarros de maconha. 
Ou seja, todo o debate atual de combate às drogas e políticas públicas foi silenciado violentamente, justamente onde se faz mais necessária a construção de ideias e projetos transformadores - a Universidade. 

Estamos ocupando a reitoria em forma de protesto e ação contra toda a violência ocorrida nesta universidade no dia de hoje. Exigimos a polícia fora do campus, um novo de projeto de iluminação da universidade, o imediato afastamento e punição aos responsáveis pela operação e a revogação do memorando da reitoria que autoriza a PM na UFSC e proibe as festas. Queremos também debates sobre desmilitarização da polícia e legalização e regulamentação das drogas.

Convocamos todos para a Assembleia Geral da UFSC, nesta quarta, 26, às 11h, na Reitoria, para definirmos todas as pautas e o futuro do movimento!"


 

Em discurso feito em entrevista coletiva na manhã de hoje (26), o Superintendente da Polícia Federal Paulo César Barcelos Cassiano Júnior afirmou que a Polícia Federal simplesmente agiu em Estrito Cumprimento do seu Dever Legal, qual seja, coibir a prática de crimes, que era o que estava acontecendo naquela ocasião “Não havia necessidade de mandado judicial para irem até o Campus ou para deter os estudantes, pois houve flagrante e diante disso, os mandatos não são obrigatórios”. lembrou

O nome dos cinco detidos  não foram divulgados. Todos assinaram termo circunstanciado por uso de drogas e foram liberados.

 

Por Larissa Gaspar

 

 

› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)

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